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Estado de Coisas

segunda-feira, outubro 31, 2005
Segunda-feira
Um dia de molho em casa, uma consulta médica, dois exames e o alívio por saber que meu ouvido enfermo tem salvação.

O melhor da consulta foi:
- A médica estava com o cabelo todo assanhado, o que demonstra um certo desapego às convenções sociais.
- Ela estava olhando o Orkut quando cheguei. É mais fácil falar sobre o meu ouvido e garganta com outra viciada.
- O spray com lidocaína para fazer a laringoscopia quase deu barato em mim. Mas sentir a língua enorme e inerte dentro da boca durante mais de 10 minutos não foi uma sensação muito boa.
- A audiometria mostrou que não sou surda. Mas eu acho que todos os aparelhos do mundo que fazem esse exame em mim precisam de calibração, pois alguma coisa me diz que, sim, eu sou surda.
- Sobre a minha paranóia quanto à pneumonia, a médica foi objetiva: "esquece isso e fica bem." Essa frase se aplica a milhares de outras "inflamações" de minha vida. Ou, como eu já dizia, "pneumonias passadas não movem moinhos."
- Ah, e a minha automedicação estava completamente inadequada. Eu estava tomando antibióticos e o problema é de origem alérgica. Mas não rolou sermão. Isso nem combinaria com uma profissional de cabelo assanhado e viciada em Orkut.

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O pior de ficar em casa numa segunda-feira à tarde é:
- Quase ninguém está 'online' no MSN nesse horário.
- Mas quem está, um amigo virtual aqui de Brasília, pede que eu arrume companhia para ele, pois na quarta-feira vai rolar uma festa do Conselho Jedi do Distrito Federal [sim, isso existe!] e ele gostaria de ir acompanhado por "uma mulher solteira que queira conhecer um cara sensível e até mesmo divertido" - palavras dele -, pois a ex-namorada dele, "mulher que ele mais amou na vida" - palavras dele também - vai estar presente, "mesmo sabendo que isso irá machucá-lo muito, muito, portanto, seria bom ter companhia nesse dia ou mesmo antes" e... enfim... Por Nossa Senhora dos Neuróticos Solitários de Brasília, O QUE É QUE EU TENHO A VER COM ISSO?!
- Eu deixo o celular tocar e penso no que fazer quanto ao lindo com quem dancei na quinta-feira passada, que não pára de ligar para mim, desde então. Mistério: por que eles não ligam no dia seguinte quando estamos solteiras?! A Caminhante tem razão: as mulheres comprometidas, por motivos ainda nebulosos para mim, tornam-se irresistíveis!
Ites
Faringite e otite que não cedem há uma semana. Depois de tentativas frustradas de automedicação e chegando ao ponto em que não consigo mais realizar minhas atividades normais [é como estou hoje], resolvi finalmente consultar um médico. Não confio neles, mas também não encontraria um pajé com muita facilidade em Brasília, "profissional" que considero mais confiável no cuidado à minha saúde.

Tenho hábitos estranhos quando fico doente, adquiridos nos últimos tempos. Depois que tive pneumonia, em meados do ano passado, sempre fico apavorada diante de qualquer resfriado - a pneumonia é praticamente uma Experiência de Quase Morte que, por sinal, eu não gostaria de repetir. A outra é que recuso ajuda externa, por isso dispensei o apoio do namorado hoje e por isso não comunico mais as minhas eventuais enfermidades à família em Recife. A mensagem subliminar é: I want to be alone [com minhas bactérias e/ou vírus]!! E, mais grave, não sinto mais vontade de comer quando estou doente. Vontade de comer era a única certeza que eu tinha em qualquer situação, na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza. De uns tempos pra cá, estranhamente, qualquer mal-estar me tira o apetite facilmente.

E fico melancólica.

E sinto vontade de chorar.

E lá vou eu, com minhas vias respiratórias superiores inflamadas, certamente ouvir [mais um] sermão sobre os riscos da automedicação. Ugh!
domingo, outubro 30, 2005
Sobre perigos e brinquedos
Havia nele o cabelo levemente espetado que me atraía, os olhos pequenos e assustadoramente escuros, desejos desconhecidos e um silêncio que eu não compreendia. Havia o meu deslumbre, um certo encantamento inexplicável, a vontade de agradar e de desaparecer, ao mesmo tempo, e as vãs tentativas de decifrar olhos assustadores e escuros. Havia, em mim, o frágil limite entre a paixão louca e a loucura contida. E não havia mais nada.

Era um passaporte para uma atordoadora montanha-russa, mas sem direito a cinto de segurança.

O perigo é estimulante, mas às vezes é melhor se deixar ficar na previsível emoção de um carrossel.
sábado, outubro 29, 2005
Google no Domingo
O Google não é tão bom espião quanto eu pensava. Depois da matéria no Estado de São Paulo, no domingo passado, sobre o excesso de gastos do Governo Federal com diárias, descobri um site que apresenta a relação de servidores públicos e seus respectivos valores de diárias - e o meu nome estava lá! :O

Pois então, uma das minhas obsessões favoritas é pesquisar o meu nome no Google. Tem um pouco dos meus passos nos últimos anos: editais de concurso público, trabalhos passados, resumo de minha dissertação de mestrado, meu nome no currículo do meu então orientador. Mas o troço, definitivamente, não é exaustivo. Ainda bem.

----------------------------------

Hoje, por um desses estranhos fenômenos pós-feriado, eu acordei segura de que era domingo. Assim, fiz todas as minhas habituais atividades dominicais: faxinei a casa, comi feito uma desesperada, não botei a cara na rua, ouvi música e liguei a televisão para esperar o Fantástico. Só então acordei para a realidade do sábado que não aconteceu para mim.

Sendo assim, eu deixei de cumprir todas as minhas obrigações habituais do sábado: não levei a roupa suja para a lavanderia, não arrumei minhas unhas, não fui para a academia, não deixei as roupas que precisam de conserto na costureira e nem fiquei feliz por que adoro o sábado.

Tem mais um problema. Amanhã é domingo de fato e eu não sei o que fazer, já que vivi o domingo hoje. Poderia inverter e me comportar como se fosse um sábado, se o comércio em Brasília não deixasse de existir depois do meio-dia de sábado. Poderia dormir o dia inteiro e ignorar o domingo, se não tivesse que buscar namorado, que estará voltando de São Paulo. Ah, já sei! Vou esquecer do calendário durante o dia e esperar o Fantástico à noite!
Quase nada
[zeca baleiro e alice ruiz]

de você sei quase nada
pra onde vai ou porque veio
nem mesmo sei
qual é a parte da tua estrada
no meu caminho será um atalho
ou um desvio um rio raso
um passo em falso um prato fundo
pra toda fome que há no mundo
noite alta que revele o passeio pela pele
dia claro madrugada de nós dois não sei mais nada
(de você sei...)

se tudo passa como se explica
o amor que fica nessa parada
amor que chega sem dar aviso
não é preciso saber mais nada
Eu, Tu, Eles
Os economistas reafirmam a todo instante: a monogamia está com os dias contados! A obrigação de ter um único parceiro começou pela necessidade de preservação da propriedade privada. Durante todos esses séculos, a monogamia aplicou-se apenas às mulheres e hoje continua sustentando outros valores da sociedade capitalista.

O texto mais interessante a respeito diz que a monogamia terá fim pela própria evolução dos conceitos de moral e da estética no futuro: um novo paradigma de relações amorosas a partir da clara exposição da vida privada, do declínio da hipocrisia, do aumento da expectativa de vida e do avanço das tecnologias, num visão bem otimista, nos conduzirão naturalmente aos múltiplos relacionamentos.

A boa notícia é que a expectativa de vida vem crescendo mais rapidamente para as mulheres do que para os homens e a previsão é que, cedo ou tarde, a população feminina será o dobro da masculina. As mulheres dominarão o mundo, mas haverá duas velhinhas para cada velhinho, a realidade que já se apresenta pra nós!

A Somaterapia, criada pelo psicanalista Roberto Freire, leva em conta essas questões e por isso entende que as pessoas devem ser libertadas:
São as micro-relações que produzem o germe do autoritarismo social, num jogo de poder e sacrifício onde valores capitalistas como a competição, o lucro e a exploração já não podem ser tratados apenas como questões de mercado e ideologia. É inegável a influência destes valores sobre áreas vitais das relações humanas, como no amor, por exemplo, onde sentimentos (ciúmes, posse, insegurança) e situações (competição, traição, mentiras) parecem reproduzir no micro-social todos os ranços e saldos do autoritarismo de Governos e Estados. Para a Soma, portanto, a política começa no cotidiano e é a fonte dos mecanismos de manutenção da ordem social. [João da Matta, somaterapeuta]

Para mim, a dificuldade em exercer a monogamia reside em razões, digamos, espaciais. É impossível encontrar numa única pessoas atributos que me agradam e que só consigo enxergar dispersos, entre tanta gente que circula o tempo todo, gente interessante, com qualidades e facetas imprevisíveis e que não se pode conhecer sem a proximidade, a experimentação, enfim, o saber a delícia de cada pessoa.

A Tradição Moral da Família diria que podemos reprimir nossos instintos em nome da convivência "saudável", mas eu me pergunto - a troco de que? Em alguns momentos, pode até surgir a necessidade de ficar ao lado de uma só pessoa, conhecer-lhe cada peculiaridade atentamente, deter-se sobre aquela enorme superfície, já que cada pessoa é um universo. Perigoso é tornar isso obrigação, sina, compromisso, virtude.

E que venham o meu velhinho e a minha velhinha! :p

Corações a mil [Gilberto Gil,1980]
Minhas ambições são dez
Dez corações de uma vez
Pra eu poder me apaixonar
Dez vezes a cada dia
Setenta a cada semana
Trezentas a cada mês
Isso, sem considerar
A provável rebeldia
De um desses corações gamar
Muitas vezes num só dia
Ou todos eles de uma vez
Todos dez
Desatarem a registrar
Toda gente fina
Toda perna grossa
Todo gato, toda gata
Toda coisa linda que passar

Meus dez mil corações a mil
Nem todo o Brasil vai dar
sexta-feira, outubro 28, 2005
Guia anti-remorso para notívagos inconsequentes
Antes de me torturar de arrependimento pela noite passada, de excessos sem limites, é melhor enumerar os determinantes alheios à minha vontade, álibis com os quais sempre posso contar.

* Ah, aquela cerveja de trigo, delícia...
Efeitos do álcool
0,3 a 0,5 g/l - a partir de dois copos de cerveja:
O grau de vigilância diminui, assim como o campo visual. O controle cerebral relaxa, dando sensação de calma e satisfação.


* E eu estava me sentindo tão leve, tão bem disposta...
Os efeitos do THC variam muito, dependendo da qualidade da erva, da quantidade consumida, da forma de consumo e da experiência do usuário. Os efeitos psicológicos tendem a predominar sobre os fisiológicos. Para uma parte das pessoas os efeitos são uma sensação de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento, sentir-se menos fatigado, vontade de rir (hilariedade).

* No final das contas, foi tãaaaaao bom dançar com aquele lindo...
Signo: Áries
Não está entre os mais fiéis. Nem sempre consegue resistir à tentação de viver uma aventura e dificilmente diz 'não' quando surge alguém interessante no seu caminho.
Ascendente: Gêmeos
Gosta de variar e pode trair sem pensar duas vezes. Não se sente culpado e faz isso por curiosidade, mas nunca leva esses casos a sério.

* Mas também acho que o som de Pepeu Gomes me deixou levemente alterada.
A música é uma linguagem específica, porém, universal, presente em todos os tempos. Atua nos conteúdos inconscientes, trazendo à tona memórias e experiências vivenciadas pelo indivíduo ou pelo coletivo, pois acessa áreas do psiquismo não autorizadas pelo consciente." [Marília Schembri]

Enfim, há várias razões que explicam por que à noite todos os gatos são pardos. Ou, como diria o Mestre, deixa ficar odara.
Odara [Caetano Veloso - 1977]
Deixa eu dançar
Pro meu corpo ficar odara
Minha cara
Minha cuca ficar odara
Deixe eu cantar
Que é pro mundo ficar odara
Pra ficar tudo jóia rara
Qualquer coisa que
se sonhara
Canto e danço que dará
Quinta...












Eu escutaria Pepeu Gomes no Clube do Choro, em Brasília, durante o resto da vida. A sensualidade, a emoção, a alegria e a melancolia da guitarra de Pepeu. Tudo lindo, harmonioso, catártico e absolutamente novo para mim. Não saberia expressar o sentimento exato, mas posso resumir assim: PEPEU GOMES É UM TESÃO!

A noite bem que poderia ter acabado aí, mas não - ai de mim -, prolongou-se em côco-de-roda, maracatu e ciranda num dos bares da cidade e terminou com uma sopa hoje pela manhã, em alguma quadra imprevista. Por quê ainda não foi publicada a lei que nos proíbe de conhecer alguém interessantíssimo quando estamos namorando?! Droga. :/
quinta-feira, outubro 27, 2005
Feriadão - zzzzzzzz...
Ficar sozinha (= sem praia, namorado, nem amigos), na solidão deste Planalto Central, em pleno Dia do Servidor Público. Resta pouco a fazer, mas também não tenho do que me queixar - a maioria dos meus feriados em Brasília não foi muito diferente disso.

Os filmes em cartaz - que eu ainda não vi - não me interessam. Eu poderia fazer uma longa e feliz caminhada no Parque Olhos d'Água, se não tivesse que me deparar com uma temperatura de 32 graus combinada a uma umidade relativa do ar menor que 50%. Há pequenas pendências domésticas, e existe a preguiça de resolvê-las numa sexta-feira. Viajar, nem pensar, que a grana tá curta. Poderia comer o saco de chocolates que o namorado me deixou ontem, para caracterizar bem o quadro depressivo dos feriados na Capital, se já não tivesse comido todos hoje. Finalmente, restam os dois livros que estou lendo: Os Caçadores de Vírus [leitura oportuna em tempos de gripe aviária] e o Restaurante do Fim do Universo, o segundo da trilogia do autor de O Guia do Mochileiro das Galáxias. E resta a continuação do post anterior: eu quero mais é dormir!! Com a diferença que, sim, gostaria de acordar, de preferência muitas horas depois.

Juscelino não previu muito bem: mesmo depois da inauguração de Brasília, o Cerrado continua bravo. Pelo menos comigo.
quarta-feira, outubro 26, 2005
Exaltação ao Sono
Deitou sem pensar em nada, apenas para sentir pernas e pés relaxarem. A cama envolveu o seu corpo, a cabeça afundou no travesseiro macio. Delícia de momento. Cortina e olhos fechados, pois a luz do sol de final de tarde não seria uma boa companhia. Queria sentir apenas a preguiça, a maciez, o escuro.

Que cor tem o sono? “Marrom” – pensou. E qual é o cheiro de dormir? “Cheiro de água.” E a forma? “Elíptica.” Antes do sono? “Sexo.” E depois? “Sexo ou biscoitos.”

Ficava contente quando ia dormir. Mas se estava triste, o sono também era bom companheiro nas desventuras. Foi sempre assim, a cama era um império na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.

Sorriu levemente quando se deu conta de que estava quase adormecendo em meio aquelas bobagens sonolentas. Delícia de estado de embriaguez, torpor e sereno desespero que precede o adormecer. Nunca mais acordou.
domingo, outubro 23, 2005
Depois do fim
Um casamento terminado é sempre um incontestável atestado de fracasso. Não gosto de frases absolutas, mas não conheço situação em que não tenha sido assim. O que muda é apenas o grau de fracasso.

Passei muito tempo reafirmando as explicações que pareciam justificar o fim do meu casamento. Hoje, quatro longos anos depois, contraditoriamente, a única coisa que consigo fazer com relação ao tema é um doloroso mea culpa. O que poderia ter feito e não fiz, teria sido diferente?

Ele sempre me pedia para que eu comprasse também xampu e creme para cabelos normais, pois o meu arsenal para cabelos secos não servia para ele. Nunca me dei ao trabalho, por minha culpa, minha máxima culpa.

Eu não sou muito de falar e, oh, essa mania de esperar as consciências alheias se manifestarem. Por minha culpa, minha máxima culpa, esclarecer alguma coisas a tempo poderia ter sido um santo remédio.

Eu deixava a bolsa sempre em cima da mesa, um péssimo hábito, sem dúvida, que o deixava sempre exasperado. Por minha culpa, minha máxima culpa, a bolsa hoje em dia ocupa o seu devido lugar de reles bolsa.

A pressa de viver e de querer tudo-ao-mesmo-tempo-agora. Aos vinte e poucos anos, o tempo não cabe no relógio, é tudo ou nada, parece que o trem da nossa história está sempre passando naquele exato momento. Do alto dos meus trinta e poucos e com toda a minha culpa, minha máxima culpa, vejo que havia tempo para tudo, se eu tivesse sido mais sábia.

Faltou carinho, diálogo, paciência, compreensão e todas aquelas coisas que qualquer manual de auto-ajuda para casais sabe muito bem. Mas faltou principalmente um tiquinho de culpa, por que ela, por tanto tempo exaltada e mais recentemente tão execrada, traz, sem dúvida, um pouco de sabedoria.
Até o fim
Estava debruçado sobre a janela e, de súbito, antes de concluir o que havia ido fazer ali, veio a necessidade de construir uma auto-imagem, a partir de pensamentos desconexos.

Seria ele apenas pessoa-formiga, com uma missão a cumprir, mas sem pensar sobre ela? Ou pessoa-andarilho, com diferentes caminhos para seguir e escolhendo-os puramente pela beleza ou pelo que é possível? Pessoa-fragmento, sempre tão completo e insuficiente. Pessoa-pessoa, amando e odiando, amado e odiado.

Inclinou-se um pouco mais sobre a janela, estava quase pronto. Qual dessas pessoas valeria a pena? Quanto importa seguir em frente? E o que há depois, se é que há algo? Vida de angústia permanente, solidão intrínseca e felicidade que vinha apenas em rompantes da mais contente ignorância. Pensou nisso e em mais nada.

Terminou de limpar a janela, que a essa altura já estava impecável, como ele gostava. Tirar aquela poeira toda que se acumulava ali parecia limpar-lhe a alma também. Fechou tudo, orgulhoso pelo pequeno triunfo doméstico, e resolveu limpar também os móveis. Só assim poderia, finalmente, descansar em paz.
segunda-feira, outubro 17, 2005
Ausente ou "que nenhum goiano me ouça"
Esta semana estarei em Goiânia, a trabalho, e provavelmente estarei aqui também no final de semana, não mais a trabalho.

Só coloquei a cara na rua para correr por 40 minutos no Parque dos Buritis. É necessário dar uma volta quase completa por fora do Parque até chegar à sua única entrada. Cheio de gambás, que lindo! Acho que sei por que lá é o habitat deles: quando voltei do forno que é a rua, calor de mais de 35 graus [suponho] sem nenhum vento mais corajoso para reanimar, eu também era um deles. Amo o Centro-Oeste.

Mas tem uma coisa boa em Goiânia - li de um fôlego só, ontem, o livro A Entrega - memórias eróticas, de Toni Bentley. Arrebatador, mas isso é assunto para outro post, de preferência sem goianos falando alto perto de mim, como no Café onde estou agora.
quarta-feira, outubro 12, 2005
Frevo em Brasília














Chama-se Frevo Relax e é uma modalidade de dança que mistura fevo, automassagem, yoga, shiatsu e outras danças populares de Pernambuco. Foi criada pelo passista Jorge Marino e assunto de uma matéria no Correio Braziliense do último domingo.

Mal acredito que passei três anos em Brasília sem frevar, enquanto pessoas se apoderavam da minha dança favorita, bem debaixo do meu nariz. A partir do próximo mês estarei lá para mostrar como é que se faz, antes de voltar definitivamente para a Terra do Frevo [queira Deus]. Humpf.

Senhora Dona
Ô Senhora Dona
Senhora Dona dos meus mares e navios
Se tudo passa como te falei um dia
Eu passarinho, tu passarias
E segue o tempo
No prumo do seu caminho
Tu passarias, meu passarinho

Ô Senhora Dona
Senhora Dona dos meus mares e navios
Seremos servos à mercê do teu destino
Dos dissabores, dos desatinos
Senhora Dona dos meus mares e navios
Tu passarias, eu passarinho

[Alceu Valença, 1986]
segunda-feira, outubro 10, 2005
Vanessa Pinheiro




Vi um show da cantora e fiquei completamente apaixonada. Só agora descobri que ela tem site, inclusive com algumas músicas disponíveis em MP3. Deixo aqui a dica para quem quiser conhecer: www.vanessapinheiro.com

Mas tira o olho, que eu vi primeiro!
Chico
Chico Buarque pediu para votar no Lula, eu votei. Olha no que deu.

Agora pede para votar pelo 'sim' no Referendo sobre o desarmamento.

Eu, hein?! Aqueles olhos verdes não me enganam mais...
Prestação de Contas - Episódio Quase Final
Sentiu um baque no coração. Estava num bar com amigas, quando o avistou do outro lado, numa mesa com amigos. Vontade de chorar, de ir até lá, de contar a história pela milésima vez para as amigas [que não suportariam mais ouvir], de sumir dali. Tudo ao mesmo tempo.

Pediu mais uma vodka para se acalmar. Avisou para as amigas, que ficaram apreensivas, pois sabiam que aquela história nunca tinha se resolvido para ela. Mas depois do primeiro gole da vodka, acendeu um cigarro e uma calma esquisita tomou conta dela. Sabia bem o que fazer, não havia motivos para nenhum tipo de sobressalto.

Ele veio na direção da mesa, ela gelou. Lindo, lindo, como sempre fora. Maravilhosamente malvado, dolorosamente indiferente. Ela sorriu cordialmente, levantou-se para cumprimentá-lo:
- Tudo bem?
- Tudo azul, querido, e você?
- Tranquilo.

Depois das devidas apresentações na mesa, um leve constrangimento e a volta à normalidade. Convidou-o para sentar um pouco. Parecia que o momento de acerto de contas havia chegado, eles poderiam conversar, quase um ano depois, sobre o estranho fim daquele relacionamento. Em pouco tempo, a conversa tomou um rumo perigosamente intimista.
- Sabe, Fulano, hoje eu vejo que o que doeu mais forte em mim, no fim do nosso caso, foi a rejeição. Não aceito rejeições muito bem. Ninguém aceita. Fiquei deprimida, depois doente, depois convalescente e agora desiludida. Dói até hoje, principalmente o que ainda não entendo.
Ele tentou ser prático:
- É, mas você sabe, essas coisas acontecem e nem sempre estão sob o nosso controle. Conheci outra pessoa, rolou uma magia incrível, foi tudo imediato: afinidade, paixão, casamento, vontade de ficar junto pra sempre. Com você foi legal, mas... acabou.

Ele calou-se, percebendo que estava sendo cortante demais, talvez sem querer. Ela permaneceu atenta, olhando fixamente para ele, como que procurando entender aquela situação mais que as palavras dele. Ela não sabia suportar as rejeições muito bem. Ninguém sabe. Tomou outro gole de vodka enquanto ouviu ele se despedir serenamente:
- Fica bem, tá, Fulana? Vou voltar para a minha mesa.

Ele acariciou a cabeça dela enquanto sorria, mas ela sentiu um certo ar de chacota no sorriso dele. Deveria ter trabalhado melhor isso na terapia, ou deveria ter ido a outro bar, ou deveria sair dali imediatamente. Depois que terminou o segundo cigarro, levantou-se com o copo na mão, para surpresa das amigas, e foi até a mesa dele.

"Esqueci uma coisa", disse, com um sorriso estranho. Em seguida, jogou o conteúdo do copo no rosto dele, diante dos amigos atônitos.

Voltou para a mesa ainda com o sorriso estranho, que nem era de vitória, nem de amargura. Pegou a bolsa e ordenou às amigas: "vamos embora."

No caminho, as amigas, eufóricas, comentaram o feito:
"Que boa vingança, hein, amiga, jogar um copo de vodka na cara dele?! Puxa, isso é que é lavar a alma, e com vodka da boa!", disseram, entre risadinhas e gritinhos.

Mas ela não ria para além daquele riso estranho. Foi quando finalmente revelou:
- Não era vodka, era ácido sulfúrico de efeito retardado que eu mandei preparar especialmente para esse momento. Vai começar a fazer efeito daqui a duas horas.

Súbito fim das risadinhas, silêncio entre as amigas, que pararam no meio do caminho, assustadas, sem saber o que fazer.

Ela seguiu andando, sem desmanchar o sorriso estranho. Nunca aceitou muito bem as rejeições. Ninguém aceita.
Da Série Pequenas Loucuras do Dia-a-Dia: como é mais fácil viver com o relógio adiantado
Sempre vivi com o relógio cinco minutos adiantado, fruto da minha pontualidade quase obsessiva. De uns tempos pra cá, entretanto, o meu marcador de tempo parece ter ganhado vida própria e passou a se apressar de um modo estranhamente independente. Agora, eu ando com um relógio que marca 15 minutos a mais que o famoso horário de Brasília. Sim, iiso mesmo, não são três, nem cinco - são 15 minutos acima do resto da humanidade.

Não me preocupei em arrumar. Se, por um lado, a antecipação do relógio me causa sempre a falsa impressão de atraso [e, consequentemente, mais ansiedade], por outro lado, fico aliviada em saber que, de fato, ainda me restam alguns minutos de tolerância.

Eu e o meu relógio, como bons esquizofrênicos que somos, nos entendemos bem.
domingo, outubro 09, 2005
O Fim
Apagou todos os e-mails dele, inclusive os que estavam na pasta 'mensagens enviadas'. Esvaziou a lixeira em seguida, não sem uma certa dor. Classificou o endereço dele como spam, assim qualquer possível mensagem iria direto para o lixo eletrônico e ela nem se daria ao trabalho de ler.

Destruiu o blog que ele tinha montado para ela, sem ao menos copiar os textos preferidos. O site pergunta pateticamente: "tem certeza que quer apagar este blog?" Ora, claro que sim, ela não queria deixar rastros de nada que tivesse passado pelo teclado dele. A essa altura, a raiva já tinha refreado as lágrimas.

Deletou scraps do Orkut, um a um, os dele para ela e vice-versa. A emoção quase voltou a tomar conta quando viu aquele scrap de cumprimento pelo aniversário, tão gentil e espirituoso. Ah, para não esquecer, pediu 'ignorar usuário', assim ele não poderia mais escrever mensagens para ela naquele site.

Implacável, excluiu o nome dele da lista de contatos do MSN. Antes de excluir, bloqueou aquela pessoa, também. Excluiu o contato até da lista de bloqueios, para não correr o risco de retorná-lo para a lista de permissões, num momento de fraqueza. Nessa hora, cansada e desiludida, chorou.

Ela foi traída, não seria a primeira, nem a última. Deveria ter rasgado cartas e fotos, ou batido o telefone na cara dele, ou devolvido bichinhos de pelúcia. Mas em tempos de internet, até o fim de um grande amor é virtual.
A Menina Chata










A Menina Chata pensa: "agora eu vou olhar pra cima, como a Tia Lucrecia pediu, só para irritar o pessoal que está no cinema..."


Na maioria das vezes, a opinião da crítica especializada é determinante para o que eu NÃO irei assistir, mas também para o que eu PRECISO ver no cinema. Tem sido assim sempre e, na maioria das vezes, acertadamente.

A Menina Santa foi uma das exceções. Fui assistir ao filme, empolgadíssima, ontem, depois de ler várias matérias elogiosas, especialmente essa aqui. Decepção. O filme tem uma narrativa lenta [chata], uma história fraca [boba] e a atriz que interpreta a menina tem uma atuação confusa [ridícula], com um tal de olhar para cima, que eu não sabia se era um olhar pidão, aflito, temeroso ou simplesmente estrábico. Para me conformar com relação ao ingresso caro, disse a mim mesma que valeu pelo tema polêmico, de abordagem inusitada [mentira, Má Educação é muito melhor].

Não foi meu primeiro erro induzido pela crítica cinematográfica. Encontros e Desencontros e Filme de Amor também se revelaram como ilusão à primeira cena. No segundo, eu tive que me controlar para não sair da sala, como fez metade da platéia, por que tenho um juramento comigo mesma de jamais abandonar filmes à própria sorte. Mas que ele merecia, merecia.

sexta-feira, outubro 07, 2005
Receitinha
Ideal para o almoço de sexta-feira:

Começo saudável:
- Folhas de agrião, alface roxa, tomate e pimentão em tiras. Corte as folhas em pedaços pequenos, junte tudo e tempere com mostarda e azeite. Sal, eu não gosto. Fica bem bonito.

Final apoteótico:
- Miojo de carne, três minutinhos e as minhoquinhas estrão prontas, é só espalhar aquele pacotinho de molho em pó. Junte ao Começo Saudável e leve para a frente do computador, para saborear enquanto confere seus e-mails.

Conclusão:
- Que conversar com a televisão, que nada! A mais autêntica expressão de morar só é, sem dúvida, comer Miojo.

A propósito:
O site Panelinha tem deliciosas receitas com Miojo.
quinta-feira, outubro 06, 2005
Restaram as batatas fritas
O fato de um namorado ir a Recife, a trabalho, passar mais de uma semana, por si só é motivo para vingança. Eu tinha mil planos para a minha semana solteira em Brasília. Mas uma inesperada saudade acabou me vencendo.

Posso passar quantas horas quiser na internet, mas sinto falta de falar sobre o meu dia, reclamar da vida e cantar músicas de Reginaldo Rossi pra ele. Reencontro a minha tão querida solidão, mas queria mesmo pegar filmes para assistir em casa, comer pizza e dormir abraçada. Saudade de quando ele faz todas as minhas vontades - e pensar que às vezes isso me deixa impaciente!... Dois dias, dois séculos, tive que reaprender a dormir sem ouvir histórias que nunca chegam a ser concluídas. Saudade do homem-amor-amigo, que me cativa por se entregar sem medidas para mim. Talvez eu precisasse de alguns dias para esquecer onde guardei a minha máscara de Mulher Insensível.

Eu me achava dona da situação, mas me surpreendi procurando por ele na cama, ao acordar. Sim, isso merece uma vingança: como pacotes e mais pacotes de batata frita com refrigerante, enquanto espero o distante sono chegar.

Em tempo: não sei como enveredei por essa trilha sentimentalista. Eu só ia comentar que sinto falta de quando ele levava o lixo, buscava lanchinhos gostosos e lavava os pratos após as refeições. Lindinho!
quarta-feira, outubro 05, 2005
A Deus
Recife muito perto de mim, pela primeira vez desde que cheguei à cidade psicopata. Voltar para Recife já foi possibilidade remota, repulsa, meta, sonho, e agora é projeto em andamento. Que o Santo Protetor dos Forasteiros Revoltados em Brasília olhe por mim. E que Nossa Senhora das Pessoas que não Aprenderam a Circular nas Tesourinhas Após Três Anos na Cidade seja clemente comigo. Esta cidade não é a minha, eu aqui nem sou eu. Vou começar a preparar a carta de despedida, espero entregá-la o quanto antes aos Dois Candangos, tadinhos, nunca conseguiram voltar...

"Querida Bras-ilha,

Lamento te deixar de forma tão pouco pesarosa. De forma quase desesperada. Eufórica. Convenhamos, você também não deve estar tão sentida assim pela minha quase partida. Hospitaleira no início, indiferente depois e agora quase áspera, você deve estar mesmo é cansada das minhas intermináveis reclamações: ora é o clima, ora são as pessoas, ora é tudo. E o meu banzo sem fim. E o evidente declínio do meu tesão pelo Parque da Cidade, outrora denominado 'minha praia em Brasília.'

Ah, cidade menina maluquinha...
Ah, cidade que faz da minha 'um sonho feliz de cidade'...

Ainda é cedo para uma despedida definitiva, mas talvez seja tarde para uma reconciliação..."

[a carta será concluída em futuro próximo...]
Segunda-feira. Acordou ainda sonolento, mas levantou rapidamente depois de olhar o relógio. Teria cerca de meia hora para tomar banho, vestir-se, pentear cabelos, escovar dentes, comer, dar um 'oi' para a mulher, um beijo na filhinha, que estaria dormindo, pegar cartas na caixa de correio, na saída e, ainda, ... ah, apenas rotina! Quem não tiver uma após a outra, todas milimetricamente iguais, que atire a primeira pedra.

Estranhou não haver ninguém em casa. Percorreu todos os cômodos, apenas silêncio e ausência. "Elas devem ter saído cedo para um daqueles ensaios na escolinha..." - pensou. Mas a empregada também não havia chegado. "Outra falta para ir ao médico." - resmungou. Vestiu-se, penteou cabelos, comeu qualquer coisa, escovou dentes, tudo na mesma sequência do dia anterior, mecanicamente.

Fechou portas e grades e portões e tudo que há para se fechar em tempos de medo. Deixou bilhete - era, acima de tudo, um marido-pai atencioso. Foi para o ponto de ônibus, esperou muitos minutos, mas nenhum transporte coletivo passou por ali. Nem transportes individuais. Nem pessoas. Rua deserta, como se fosse madrugada, mas o sol já se mostrava, majestoso, em todo o seu calor das oito da manhã.

Voltou para casa apreensivo. Tentou organizar as idéias, mas elas sequer existiam. Tentou ligar para alguém, não havia sinal no telefone. Tentou ver televisão, viu apenas a ausência de canais. Gritou pelo vizinho, sem ouvir resposta. Foi só então que lembrou de verificar a folhinha do calendário na cozinha.

Como ele pôde esquecer?! Era o Dia Internacional de Ninguém. Durante 24 horas, estaria completamente sozinho no mundo.

Preparou um café, sentou no sofá e se entregou, resignado, à leitura da Folha de São Paulo do dia anterior.

Em tempo: sim, eu ouvi [e imaginei] a música "No Dia em Que a Terra Parou", de Raul Seixas [1977], durante todo o final de semana.
domingo, outubro 02, 2005
Eu fui


DJ Dolores e Aparelhagem em Brasília. Eu fui.

E é assim que, de tempos em tempos, eu faço as pazes com Brasília.