Eu adoro o Rio de Janeiro. Mesmo. A cidade, a beleza incrível, o jeitão descontraído, o samba. Mas eu só conhecia o Rio em viagens curtas ou a trabalho, não tive nenhuma experiência de cotidiano na cidade. Dessa vez, resolvi passar o reveillon em Copacabana, sonho mais de meu filho que meu, e passar mais de uma semana na cidade, para aproveitar a folga do final de ano.
Foi aí que eu conheci o lado obscuro da cidade. A malandragem, esse símbolo do lugar, entranhada na vida das pessoas do lugar. Essa imagem do bom malandro, de chapéu panamá e sapatos brancos, divertido e esperto, se safando das agruras da vida - isso eu apaguei do meu imaginário. A malandragem no Rio é nociva, degradante, triste. Divide as pessoas em dois grupos inconciliáveis: os "malandros" e os "manés".
A malandragem começa na falta de confiança nas relações comerciais, todo mundo desconfiando de todo mundo, até na hora do pagamento de um copo de suco que se vai beber. Continua nos pequenos furtos e preços acima do real. É a canga que, em questão de meia hora, passa de 10 a 20 reais no dia do show de Roberto Carlos. Foi só meia hora. E os vendedores ficam irredutíveis. É o táxi que cobra deliberadamente 40 reais por um trajeto de 8 reais, de Copacabana à Lagoa Rodrigo de Freitas. É o mal estar, a insegurança generalizada, o passar a perna no outro, a Lei de Gerson absoluta.
Eu fiquei triste por essa cidade linda, que eu amo. Ninguém ganha nada com tanta malandragem. E me dei conta de que a chamada guerra do Rio vai muito além do tráfico. É a guerra contra a guerra do povo contra si mesmo. É a guerra em busca de mais solidariedade e menos esperteza. É a guerra por um pouco de gentileza, como num dos ícones da cidade.
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