Existe uma pressão social implícita para que estejamos todos casados. Bem ou mal casados, não importa. E existe uma rivalidade explícita entre solteiros e casados. E nunca dá pra saber de que lado é melhor estar.
Enquanto solteiros postam fotos com as festas mais alegres de todo o planeta, os casados se perguntam como alguém pode ser tão incessamente feliz. E contra-atacam, alardeando a felicidade de ser um casal, dormir de conchinha, viagens a dois e outras delícias da vida dos acompanhados.
Eu não tenho posição formada sobre isso. Sei que estou cada vez mais desiludida com os dois tipos de vida. Não invejo a solidão sorridente dos solteiros, nem o aconchego sufocante dos casados. Se pudesse escolher, meu apartamento teria dois botões na entrada, para a escolha diária: solteira ou casada.
No caminho entre o meu trabalho e a minha casa, eu avaliaria cuidadosamente o meu estado de espírito e decidiria. Quando chegasse, já teria a minha decisão e poderia escolher que tipo de vida eu quero para aquela noite. E só para aquela noite.
Ao apertar o botão "casada", eu abriria a porta e daria de cara com um marido zeloso, tarado e sorridente no sofá, que me aguardaria com um abraço e jantar prontinho no fogão. Claro que eu providenciaria a mesa e o vinho, para reforçar essa idéia de cumplicidade, pois afinal eu não quero um escravo. Conversaríamos sobre o nosso dia, sobre política, sobre amenidades. Sorriríamos de alguma piada ou acontecimento passado. Faríamos planos para uma viagem a Pirenopólis no próximo final de semana. E depois do jantar, é *claro* que dormiríamos agarradinhos. Não sem antes... hummmm, vocês sabem.
No dia seguinte, já um tanto impaciente com as manias do meu marido-robô, que sempre deixa a toalha molhada em cima da MINHA cama nos meus dias de casada, eu chegaria em casa decidida a apertar o botão "solteira". E assim teria cedo, eu abriria a porta e me depararia com quatro gatas famintas e carentes de afeto. Depois de oferecer ração e carinho para cada uma delas, eu me espalharia no meu enorme sofá e me esbaldaria ali com companhias deliciosas: um notebook, a novela das 9 e uma barra de chocolate branco. Sem ninguém para me encher o saco. Sem obrigações para dividir, sem satisfações a prestar. Eu ligaria para uma amiga e combinaria uma viagem para o feriadão. E sorriria com algum comentário no Twitter até me deixar nocautear pelo sono, nunca antes de 1h da manhã.
Sim, pelo direito aos dois botões da felicidade, nós não deveríamos ser obrigados a escolher.
Eu quero tudo, mas um pouco de cada coisa a cada dia.