Eu estava voltando da minha habitual corridinha do domingo, quando passei por uma casa no momento em que as pessoas estavam saindo para algum lugar, provavelmente para almoçar, pelo horário. A cena me chamou atenção por um detalhe: a mulher usava um salto altíssimo. Domingo, final da manhã. Eu de tênis de corrida. Deu vontade de chegar juntinho do ouvido dela e cochichar: "filha, relaxa e vai calçar uma rasteira, hoje é domingo".
Mas são assim as mulheres de Brasília, de domingo a domingo: salto alto, maquiagem, acessórios, cabelos, penduricalhos, muita pose. Em pleno fim de semana, aquele momento pelo qual eu espero ardentemente para ficar completamente à vontade, lá estão elas, aprisionadas no mundo fashion. Tudo tem que estar estiloso, precisam de algum diferencial, precisam aparentar algo que eu ainda não sei bem o que é.
O pior, pode ser que sejam felizes assim. Porque eu não ouso arriscar um palpite nesse lance de felicidade. Mas eu vejo apenas desconforto e aparência. Eu não sou dessa tribo. Eu gosto de estar quase descalça, quase relapsa, quase imperceptível. Eu caminho por entre as mulheres plastificadas de Brasília sem encontrar o meu lugar. Nesta cidade loira, de cabelos alisados e óculos enormes no rosto. Uma cidade de salto alto.
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