Às vezes os homens me parecem tão incompreensíveis que eu prefiro adotar uma perspectiva restritiva, destituída de história, e pensar que somos apenas pessoas. Sim, essa é uma forma mais suave de encarar as coisas. Somos todos pessoas, cheios de angústias, dúvidas, escolhas. Somos pessoas frágeis, homens e mulheres, com medo de envelhecer sozinhos. Somos pessoas tristes, que se emocionam por algum motivo e só querem um amor amigo para descansar. E somos pessoas volúveis, nunca satisfeitos com o que temos. Somos pessoas cruéis que conseguem partir em busca de novos horizontes. Somos pessoas vulneráveis ao cansaço e ao tédio. E assim vivemos e nos relacionamentos, céu e inferno em nós, homem e mulher dentro de cada um.
Sob essa perspectiva, não haveriam cafajestes nem vítimas. Isso equilibra as coisas e nos permite entender o outro, humano, que ali nos maltrata.
Eu queria mesmo acreditar nisso. Mas sei que não é assim. Somos sim, educados para exercer papéis sociais que nos fazem sofrer. E que nos fazem por vezes desviar de nossas humanidades. Não somos seres livres para exercer os nossos desejos e dúvidas. Somos, sim, homens e mulheres tristonhos e perdidos, largados num lugar qualquer pelo vendaval da história.