Correr é um exercício solitário. É uma luta contra si mesmo, especialmente nos primeiros minutos, quando a respiração está ofegante, as passadas ficam difíceis e o coração salta dentro do peito. E vem uma vozinha não-sei-de-onde que te diz "pára tá louca pra que isso vai caminhar". Quem consegue superar essa fase, os limites desse momento, tem a recompensa - o estado de calma. Uns minutos - muito mais do que na fase difícil - de deleite, de vento batendo no rosto, escutar os próprios pensamentos, sentir a respiração, o corpo anestesiado. Êxtase.
Correr é um exercício de honestidade. Porque não é possível enganar a si mesmo durante a corrida. O corpo dá sinais de cansaço contra os quais é quase impossível de lutar, a partir de determinado ponto. É a respiração que falta, é o corpo que dói, é a disposição que acaba. E vem a negociação, diminuir o ritmo ou parar, vem o olhar para si mesmo e se reconhecer em limites que não necessariamente são fragilidades.
Correr é um exercício de coragem. Coragem para se impor uma disciplina rígida de treinos, para desafiar o tempo, o clima, o ambiente. Para sair à rua, faça sol ou faça chuva, só para sentir aquele prazer no final da corrida. É preciso olhar para a frente, é preciso não se comparar com os demais, é preciso acreditar na própria força. É preciso coragem.
Correr é um exercício solitário, de honestidade e coragem. Correr é como viver.
_____________________