Ser mãe, o que é? Esse ser, a mãe, quem é?
A figura sagrada da mãe foi sendo desconstruída pelas próprias mulheres ao longo da história. Mesmo o amor materno, essa quase que instituição da nossa sociedade, pode ser questionado. Nada é natural, tudo é conquistado ali, olho no olho. E as mães já podem largar a mochila pesada da culpa. Podem?
Poucas figuras resistem tanto ao tempo e ao debate quanto a mãe. Algumas parecem ter saído do túnel do tempo, de tão retrógradas. Outras usam a herança da psicanálise e erram a mão, criando pequenos monstrinhos. Ainda, a violência contra crianças é um horror que insiste em não nos abandonar.
Meu relacionamento com a minha mãe nunca foi um padecer completo, mas também nunca foi um paraíso total. Entre altos e baixos, construímos uma relação de respeito e carinho.
Entretanto, o tempo e o distanciamento físico vêm me mostrando a cara dessa relação que eu nunca quis ver. Tenho ficado cada vez mais impaciente com os sermões, as críticas, o pessimismo, a prepotência, a desatenção.
Pensando nisso, e em minha rebeldia retardatária, que tem aberto os meus olhos para todas essas imperfeições maternas, ouso criar um manual da mãe correta (esqueçamos a perfeita) ou de como simplesmente não encher muito o saco de um filho.
Cuidado é cuidado mesmo, e não controle.
O amor é generoso e não espera retribuições constantes, apenas gentileza.
Diálogo implica em ouvir. Óbvio, mas pouco praticado.
É preciso estar bem e feliz para formar outro ser humano.
Princípios são importantes. Mas é preciso que haja verdade neles.
Para dar um bom exemplo, não é preciso ser um poço de perfeição. Basta ser honesta.
Filho não é propriedade privada, nem réu, nem aluno, nem incapaz.
É preciso estar aberta para o aprendizado, mesmo que a autoridade ainda seja necessária.
Formar alguém é dar-lhe, antes de tudo, autonomia.
Um último e importante lembrete: filhos crescem.