Os economistas reafirmam a todo instante: a monogamia está com os dias contados! A obrigação de ter um único parceiro começou pela necessidade de preservação da propriedade privada. Durante todos esses séculos, a monogamia aplicou-se apenas às mulheres e hoje continua sustentando outros valores da sociedade capitalista.
O
texto mais interessante a respeito diz que a monogamia terá fim pela própria evolução dos conceitos de moral e da estética no futuro: um novo paradigma de relações amorosas a partir da clara exposição da vida privada, do declínio da hipocrisia, do aumento da expectativa de vida e do avanço das tecnologias, num visão bem otimista, nos conduzirão naturalmente aos múltiplos relacionamentos.
A boa notícia é que a expectativa de vida vem crescendo mais rapidamente para as mulheres do que para os homens e a previsão é que, cedo ou tarde, a população feminina será o dobro da masculina. As mulheres dominarão o mundo, mas haverá duas velhinhas para cada velhinho, a realidade que já se apresenta pra nós!
A Somaterapia, criada pelo psicanalista Roberto Freire, leva em conta essas questões e por isso entende que as pessoas devem ser libertadas:
São as micro-relações que produzem o germe do autoritarismo social, num jogo de poder e sacrifício onde valores capitalistas como a competição, o lucro e a exploração já não podem ser tratados apenas como questões de mercado e ideologia. É inegável a influência destes valores sobre áreas vitais das relações humanas, como no amor, por exemplo, onde sentimentos (ciúmes, posse, insegurança) e situações (competição, traição, mentiras) parecem reproduzir no micro-social todos os ranços e saldos do autoritarismo de Governos e Estados. Para a Soma, portanto, a política começa no cotidiano e é a fonte dos mecanismos de manutenção da ordem social. [João da Matta, somaterapeuta]Para mim, a dificuldade em exercer a monogamia reside em razões, digamos, espaciais. É impossível encontrar numa única pessoas atributos que me agradam e que só consigo enxergar dispersos, entre tanta gente que circula o tempo todo, gente interessante, com qualidades e facetas imprevisíveis e que não se pode conhecer sem a proximidade, a experimentação, enfim, o saber a delícia de cada pessoa.
A Tradição Moral da Família diria que podemos reprimir nossos instintos em nome da convivência "saudável", mas eu me pergunto - a troco de que? Em alguns momentos, pode até surgir a necessidade de ficar ao lado de uma só pessoa, conhecer-lhe cada peculiaridade atentamente, deter-se sobre aquela enorme superfície, já que cada pessoa é um universo. Perigoso é tornar isso obrigação, sina, compromisso, virtude.
E que venham o meu velhinho e a minha velhinha! :p
Corações a mil [Gilberto Gil,1980]Minhas ambições são dezDez corações de uma vezPra eu poder me apaixonarDez vezes a cada diaSetenta a cada semanaTrezentas a cada mêsIsso, sem considerarA provável rebeldiaDe um desses corações gamarMuitas vezes num só diaOu todos eles de uma vezTodos dezDesatarem a registrarToda gente finaToda perna grossaTodo gato, toda gataToda coisa linda que passarMeus dez mil corações a milNem todo o Brasil vai dar
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