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Estado de Coisas

sexta-feira, setembro 30, 2005
Mãos Divinas
Estou na sala de espera, ansiosa. Leio a revista "Veja Paraíso" atentamente, quando a atendente com grandes asas me chama: "sua vez!", diz ela, num tom melódico, suave e em harmonia com a música angelical que enche o ambiente de sons de harpa.

Do lado de dentro do consultório, o Todo-Poderoso me aguarda, barbas enormes e uma túnica alvíssima, de doer os olhos. "Seria um ótimo comercial para o Ariel", pensei, antes de cumprimentar solenemente aquela figura onipresente, onipotente e impressionantemente alta. Não era uma consulta qualquer. O Todo-Poderoso havia concedido a alguns mortais muito bem-comportados e exemplares, como eu, o privilégio de fazer pequenas alterações na obra.

"Pequenos reparos e ajustes necessários", era o que dizia o convite que havia aparecido misteriosamente na minha cama, na noite anterior. No verso, o endereço para onde eu deveria me dirigir e tomar o "táxi para a estação lunar". Pensei, desconfiada, que eles haviam plagiado a música de Zé Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo, mas esse era um pensamento muito insignificante e não condizia com aquele momento grandioso. No rodapé, um pequeno aviso, em letras prateadas: "levanta-te e anda, pois o táxi não vai esperar mais que 15 minutos por ti."

Entro na sala, apreensiva. O Todo-Poderoso sorri, benevolente, e com delicadeza, me pergunta:
- Então, minha filha, o que vai ser?
- Ah, Deus, são tantas coisas!...
- Sei, filha querida, sei. Mas se tu amas o teu próximo como a ti mesma, deves ser breve e precisa, para que eu possa atender os teus irmãos lá fora.

Ele tinha razão, naquele jeito tão bíblico de falar - e eu que achava que isso era obra dos tradutores. Resolvi priorizar minha queixas.

- Seguinte, Pai, em primeiro lugar, o meu joelho. Sabe, Deus, passei mais da metade da vida sem usar minissaia também por causa dessas bolotas disformes.
- Sabe, filha, em verdade vos digo que o teu joelho não foi dos mais bonitos em toda a criação. Mas dai graças a Mim também por isso. Sendo tão linda como és, um joelho maravilhoso te conduziria à vaidade mundana e sabes que o meu Reino não é desse mundo.
- Ah sim, que grosseria a minha, primeiro deveria agradecer por tudo, talvez uma oração, ó Deus, como eu pude ser tão ingrata e...

Ele me interrompe suavemente:
- Acalma-te, aquieta-te! Não exigirei isso de vós, tão verdadeiramente humanos. Acaso não sabeis que eu sempre perdoarei vossos pecados e fraquezas?!

Baixei a cabeça, envergonhada com a minha ignorância e pude ver o meu joelho novinho em folha, lindo e discreto, como eu sempre sonhei. Pensei que deveria passar à próxima queixa, de forma a agilizar o trabalho divino.

- Ah, essa miopia, sabe, Senhor. É verdade que a cirurgia é bem simples, mas eu detesto a idéia de ter que cortar meu olho e...

Ele fechou os meus olhos com as mãos e, ao abri-los novamente, senti necessidade de retirar as lentes imediatamente: eu era uma ex-míope.

- Senhor, os meus cabelos...

O Todo-Poderoso passou as mãos nos meus cabelos, como que examinando cuidadosamente e, na medida em que o fazia, os cachos rebeldes se acalmaram e eu vi meus cabelos como se tivessem acabado de sair de uma queratinização eterna.

- Filha, todos que crêem serão salvos, mas sabes que eu preciso de tempo para atender os outros seres humanos exemplares que precisam de ajustes.
- Claro, Pai, queria agradecer os ajustes, verdadeiras bençãos e...
- Agradecerás por meio de tuas obras, querida.
- Sim Senhor.

Depois de um abraço, me despedi agradecendo novamente, um tanto nervosa.

Antes de fechar a porta, algo que eu não poderia esquecer:
- Senhor, uma última coisa.
- Sim, filha - respondeu, compreensivo.
- Esse meu jeito desatinado de me apaixonar...
- Vá e não te apaixones loucamente mais.

Fechei a porta aliviada, louca para voltar para a Terra e desfilar meus joelhos novos.
Ameaça - momento naftalina
Tive que procurar os documentos do meu carro roubado - que foi achado em Goiás - e, com isso, recuperei também várias outras cartas de amor ridículas, como a que publiquei abaixo, dos idos de 2004.

De modo a provar que estão em meu poder, posso enviar um pedaço de papel do caderno velho onde estão escritas. Se ninguém se dispor a pagar algum resgate por elas - nem valem muito -, eu estou avisando: não acionem o Batalhão Especial Anti-Sequestro, não implorem por clemência, não ousem me rastrear, não tentem me impedir - publicarei todas aqui.
Poeminha inútil
É preciso contextualizar o texto abaixo, para que não pareça tolo ou pueril [mesmo que realmente seja]: foi escrito num momento de paixonite febril. É, portanto, uma carta de amor, e Fernando Pessoa tem razão: "as cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas."

E que sirva como lição para mim, publicado o meu vexame: apesar de necessárias em algum momento, as cartas de amor ridículas viraram passado para mim.


Tenho medo
de enlouquecer por amor
de lugares altos
de ficar sozinha
de ruas escuras.
Sinto saudade
de minha cidade
de meus amigos
do mar
da feliz inocência.
Fico alegre
quando danço
se o céu está azul
ao abraçar alguém
se é carnaval.
Fico furiosa
durante a espera
por ciúme
se há maldade
indiferença, injustiça.

Nenhum sentimento
nem o mais intenso
pode ser comparado
à explosão silenciosa
que a tua presença provoca.

Ridiculamente apaixonada, em 18/03/04
quinta-feira, setembro 29, 2005
Agrávida
Hoje eu quero falar da fantástica experiência de não estar grávida.

Saber que eu não vou dar à luz um bebê daqui a nove meses é realmente comovente. Chego a sentir a emoção do parto que não vai acontecer na sala fria do hospital; as dores que não sentirei - decorrentes da anestesia, no parto por cesariana, ou das contrações, no parto natural; os choros de madrugada que não escutarei; e fraldas intermináveis, que não terei que limpar. Ah, essa pessoa que não virá - pessoa em miniatura que precisa de atenção 24h por dia durante alguns anos... E as mudanças que não acontecerão no meu corpo - a minha barriga não vai esticar e só voltar ao lugar dois anos depois.

É muito gostoso também este momento de não preparar o enxoval. Olho para vitrines de lojas de bebê enternecida, pensando nas roupas caras e de curta duração que não terei que comprar. Verde, azul, rosa, amarelo? As cores se misturam na minha cabeça confusa e feliz e eu decido por um vestido preto de alcinhas, da loja ao lado.

Todas as mulheres deveriam celebrar, a cada dia, esse momento, essa missão, essa felicidade de não esperar um bebê.

Nem consigo mais escrever, a emoção transborda pelos meus poros não-grávidos... Mas deixo aqui a adaptação de um dessas mensagens toscas com musiquinhas chatas da internet, para expressar esse sentimento grandioso. Agradeço antecipadamente aos amigos queridos todos os cumprimentos pela minha agravidez.

Você se lembra do momento em que recebeu a notícia confirmada de sua não-gestação? Que emoção, que alegria medrosa e responsável foi aquela? Queria gritar na rua a sua notícia alvissareira? Ou preferia esquecer-se que mais alguém não chegaria para dividir com você seu corpo, comida, sonhos, espaços...

Para que se importar com o sentimento primeiro que lhe invadiu o coração e que percorreu seu corpo como um arrepio gigante? Só uma certeza acompanhou você desde aquele momento: não há filho nenhum! Nunca mais situação alguma mudará esse fato: VOCÊ NÃO ESTÁ GRÁVIDA!!!

A não-maternidade não é uma situação qualquer: no dia-a-dia ela se transformará em MODO DE SER, RAZÃO DE VIDA, MOLA PROPULSORA, FONTE DE OBJETIVOS, DETERMINANTE DE AÇÕES, realidade extraordinariamente envolvente e definitiva que jamais sofrerá mudanças!
terça-feira, setembro 27, 2005
Sobre esquecer e lembrar
A vida poderia ser mais fácil, mundo mais colorido e dias mais singelos se eu não tivesse o péssimo hábito de esquecer:

* o celular em casa
* confissões importantes que os namorados me fazem em momentos de intimidade
* títulos de filmes legais recomendados pelos amigos
* data da última menstruação
* desligar o estabilizador antes de dormir
* aniversários de pessoas queridas
* o meu carro na quadra comercial perto aqui de casa (sim! :-o )
* a ordem correta das as principais causas de mortalidade e morbidade do país
* quando usar [ou não] o hífen
* o sobrenome do meu melhor amigo de faculdade, única chance de encontrá-lo no Google
* a história completinha da Insurreição Pernambucana
* onde eu guardei a única chave-de-fenda aqui de casa.

E tem o que eu quero-preciso esquecer - nem que seja para liberar espaço na memória - e não consigo:

* valores de referência em análises clínicas
* os jingles das campanhas de Miguel Arraes, em 86 e José Serra, em 2002
* todas as canções da Turma do Balão Mágico
* o ciclo biológico de vários parasitas
* o dia em que conheci meu ex-marido
* poesias esdrúxulas que escrevi na adolescência
* velhas mágoas
* o número do CEP de meu endereço em Pernambuco
* as doenças relacionadas à deficiência das principais vitaminas
* amores mal resolvidos
* os muitos hinos das trezentas diferentes igrejas que frequentei com minha eclética família.
Frases de efeito
Recebo vários e-mail diariamente, pró e contra o Estatuto do Desarmamento. Já me decidi contra o tal artigo 35, mas isso não vem ao caso. O melhor argumento que li foi a frase de um filósofo, dias desses, por e-mail, em resposta a uma mensagem pró-desarmamento:

"Quero ter direito a suicidar-me com um tiro de revólver na cabeça!"

Morbidamente cômico. :)

Por falar em frases de efeito, há uma outra, do documentário "Barra 68" - sobre a invasão da Universidade de Brasília por estudantes, em 1968:

"O mundo será feliz quando o último CAPITALISTA for enforcado nas tripas do último STALINISTA."

Comicamente mórbido. :)
sexta-feira, setembro 23, 2005
O enterrado vivo
É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

Carlos Drummond de Andrade, 1954
O melhor dos escândalos

Ele tem um apelido que que mais parece codinome de traficante, Toninho da Barcelona. Exerce uma profissão duvidosa e está condenado a algumas dácadas de prisão. Se envolveu em várias falcatruas e fala errado de dar dó. Mas que o Antonio Oliveira Claramunt tem a maior cara de gostosinho, ah, isso ele tem!
quarta-feira, setembro 21, 2005
Senexo
Eu sei bem o que quero, mas só por eliminação.

Eu não quero a cama fria, mas também não quero a solidão a dois. Não gosto da violência da metropóle, mas quero de novo mergulhar em tudo que é mar. Não quero a orgia interminável, tampouco a prisão da monogamia. Não gosto de falar e nem quero o isolamento. Perco a paciência com os cachos dos meus cabelos, mas não consigo pensá-los lisos todo o tempo. Quero ser amada, mas não represada.

Caminho - fio da navalha - entre lançar fora o que eu não quero e agarrar forte o que me é possível.

Pelo direito de exagerar e querer tudo.
Pela possibilidade de chorar alto.
Pelo mau humor, cara fechada e livre resmungar.
Pelo amor tranquilo e pela troca de casais.
Para que o Carnaval dure o ano inteiro.
Manifesto.
terça-feira, setembro 20, 2005
Saudade - Patativa do Assaré
Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.

Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.

Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.

Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.

A saudade é jardineira
Que planta em peito qualquer
Quando ela planta cegueira
No coração da mulher,
Fica tal qual a frieira
Quanto mais coça mais quer.
De novo?
É, eu reconheço que venho sendo repetitiva - sim, eu tenho sido repetitiva.

Acho que preciso mudar de lugar, mas onde estou agora? - é, tenho que procurar o meu lugar.

Disco arranhado, variações sobre o mesmo tema, mais do mesmo, voltas em círculos, lugar-comum. Nada de novo.

Entre tantos temas, só um me chama a atenção. É quase sempre Ele. É quase sempre Ele, repito.

Há o mau uso dos recursos públicos e os ipês amarelos em plena seca de Brasília e a polêmica sobre o desarmamento e o novo planeta do Sistema Solar e os problemas da polícia carioca e as hortaliças contaminadas nos supermercados. Nada de novo também fora daqui. Então, é quase sempre Ele - torno a dizer.

Como nos velhos tempos, devo escrever numa lousa, pelo menos 100 vezes:
Vou parar de me repetir.
Vou parar de me repetir.
Vou parar de me repetir.
Vou parar de...
segunda-feira, setembro 19, 2005
Em resposta ao post anterior - prestação de contas II
Ele escrevia e apagava várias vezes. Fossem papel e caneta, seriam vários rascunhos desperdiçados. Mas ele estava em frente ao computador e - maravilhas da tecnologia - podia pensar e repensar suas palavras. Não que estivesse indeciso ou cauteloso demais. Queria apenas achar a palavra certa para cada sentimento, sem precipicitações e sem risco de causar mágoas desnecessárias. Pensava, fumava e imaginava a expressão dela quando lesse o e-mail.

O início foi um dilema: querida? cara? oi? Decidiu por um olá seco, apenas para fugir daquele estado hesitante e começar o conteúdo, de fato.

"Parece que, entre nós, há sempre algo por dizer. Imagino se isso é apenas um problema de comunicação ou se representa algo mais. Não tenho a resposta e nem importa agora. Talvez, em algum momento, você tenha pensado que eu poderia tê-las, completas, perfeitas e sempre adequadas. Mas não as tenho e às vezes sinto a realidade distante desse controle que eu pareço ter. Longe da fragilidade, mas também distante da autoridade absoluta, eu às vezes me surpreendo simplesmente... sozinho.

Não faltou nada em você, tampouco faltou em mim e, mais uma vez, não tenho respostas. Talvez você se faça mais clara agora, no que costuma chamar de 'obsessão resignada', do que quando estava tão próxima. Tenho em mim também alguns cheiros, lembranças e saudades, quiçá tanto quanto você. Isso talvez te liberte um pouco do julgamento que faz de si mesma, sentimental demais, excessivamente romântica ou demasiado sonhadora. Não, você é até bastante racional. Mas talvez haja mesmo um - pequeno ou grande - abismo entre dilemas femininos e fatos masculinos.

Às vezes preciso desse teu querer imenso e às vezes [na maioria delas] não sei o que fazer com isso. O certo é que vamos nos querer, um ao outro, de alguma forma, por algum tempo. E sem mais certezas. Se há o que pedir, peço que perdoe palavras não ditas, ou ditas de mau jeito, ou ditas de forma a te prender a mim. E que continue me querendo loucamente, enquanto for possível.

Beijos."


Lê sem revisar, não corrige mais nada. Apaga a mensagem e confirma a ação. Seria péssimo se caísse em mãos erradas.

Fuma mais um cigarro e vai dormir.
domingo, setembro 18, 2005
Prestação de contas
Respira fundo. Termina de limpar o rosto e faz uma maquiagem levíssima, apenas para se sentir mais segura. Estranha, essa sensação de segurança que as mulheres sentem quando estão maquiadas... Deve ser a sensação milenar de guerreiros em pé de guerra, a certeza de sedução e... ah, não importa agora, nada de perder o foco. Sombra discreta e batom claro, quase nada.

Olha fundo nos olhos e sorri reservadamente. Lá está Ele, amor perdido na estrada e reincidente a cada onda de poeira levantada. Obsessão silenciosa e resignada. Ela começa a falar pausadamente, num ritmo tranquilo, quase calculista, nada de emoções descompassadas:

- Quer saber? Não me pergunto mais sobre o que faltou em mim. Se deveria ter sido mais comedida, menos adolescente, mais decidida. Se faltou uma conversa ou um beijo desesperado. Naquele instante, eu era só deleite e cuidado. Achava que tudo estava em seu devido lugar: as palavras certas, o sorriso deslumbrado, a obediência inconseqüente. E, ainda assim, não foi o melhor que eu poderia oferecer. O que resta? O agora. E agora, quando olho para esse outro alguém ao meu lado, com seu desejo e cuidado, o sorriso deslumbrado e o beijo desesperado, eu me vejo [como era antes] e me acalmo [por que antes não é agora]. Nada há de ser pra sempre. Nem a obsessão.

Uma pausa para pensar, ou para manter o equilíbrio das emoções, ou apenas para coçar a pontinha do nariz. Continua:

- Hoje eu te quero, mas já não dói. É um querer mudo e acéfalo, quase anomalia, quase relíquia. Não se preocupe, está bem guardado.

Pausa, dessa vez para um risinho amargo.

- Eu sei, é redundante, você não haveria de se preocupar. Você tem tantas outras prioridades, tantos imprevistos, tantas coisas fora de sua governabilidade, não é? Além disso, quem mandou eu te querer loucamente?! Pode deixar que eu sei me cuidar, eu quase sempre sei.

Chega a sentir o cheiro Dele, seguido daquela inevitável vontade de beijá-lo e de abandonar a si mesma. É despertada daquela sensação pelo telefone que toca. "Meu Deus, são quase 9 da manhã!" Termina de arrumar o cabelo, inacreditável que tenha dito tudo aquilo ao espelho do banheiro àquela hora da manhã, já atrasada para o trabalho. Apaga a luz e sai apressada, tentando recuperar os minutos perdidos.
quinta-feira, setembro 15, 2005
De como me apaixono por cantoras







Acabei de assistir ao show de Vanessa Pinheiro, artista paraense radicada em Brasília, num projeto da Caixa chamado Som da Cidade, vitrine para os talentos locais.

Vanessa Pinheiro é arrebatadora. Não bastasse ser dona de uma voz maravilhosa e de afinação impecável, ainda compõe músicas que são verdadeiras obras-primas, como Temporal. Além disso, ela tem um repertório que é, ao mesmo tempo, elegante e emocionante. Como se fosse pouco, é também linda, samba bem e é sensual. Sorri enquanto canta. Toca violão de forma bela. Tem luz própria. É uma diva.

Tá, eu confesso, me apaixonei pela cantora. E, sim, eu casaria com ela hoje mesmo.
quarta-feira, setembro 14, 2005
Mundo muito estranho












Aquele colega de trabalho me chama a atenção por que tem olhos levemente maliciosos, como os Dele. Humor sutil, sorriso sério, passa a mão na barba, aimeusdeuses, parece mesmo com Ele.

Já o meu namorado não parece com Ele e, por isso, tem qualidades como a de fazer com eu me sinta segura. Não é Ele.

Uma vez eu vi o rosto Dele no rosto de alguém. Fiquei aflita. E eu que pensava que isso só acontecia em filmes de terror e congêneres!...

Um 'vizinho' de andar lá do trabalho também parece com Ele, esse só fisicamente, por que nunca nos falamos.

Dia desses eu vi um garoto passando e imaginei que seria Ele, mas há uns dez anos.

Alguns lugares também parecem com Ele. Droga, são lugares que eu gosto!

Recebi um e-mail de um desconhecido e comentei que o estilo de escrever me lembrava alguém. Ele, e quem mais?!

Algumas músicas, inevitável lembrar Dele.

E a minha mania de fechar rapidamente a porta do elevador na cara das pessoas - já que prefiro mesmo usar o elevador sozinha -, estranhíssimo, mas sempre tem algo a ver com Ele.

Ao menos não sonho mais com Ele, nem sinto o cheiro Dele. Mas se bebo alguma vodca e o pensamento corre frouxo e feliz, independente de minha vontade, é Ele que vem.

Ele sempre vem, nunca vem.

Um momento que eu vou ali procurar onde fica a saída deste mundo onde Ele é o único habitante, entre bilhões.

(A pintura lá em cima é do artista pernambucano Erisson)
segunda-feira, setembro 12, 2005
Noite
Esse vício de viver à noite que não passa. Ou, como lembrou o Xico Sá, é o "quaerens quem devoret." É essa penumbra da noite, o cheiro de cigarro misturado ao álcool, os olhos brilhando, as bocas entreabertas. A noite me suga e eu apenas fecho os olhos e me deixo transportar.

Talvez eu não devesse precisar tanto dessa embriaguez noturna, mas eu preciso. Quem dera ser pássaro de hábitos diurnos, voar apenas sob a luz do sol e dormir tranquila quando o breu vem chegando. Mas, ah, dei de ser bacurau e a noite me seduz facilmente. As estrelas dançam para mim, a lua me canta uma dessas músicas óbvias, os botecos e suas pessoas me convidam e lá vou eu, noite adentro, abduzida e feliz.

É quando me apaixono, é quando pintam os desejos, é quando a luz finalmente chega até mim. A noite me chama e eu apenas sigo os seus passos, seduzida. E sedutora. Fico mais bela à noite. É quando bebo com prazer, fumo com vontade, olho com malícia. À noite eu apareço. Só até que o dia chegue.
domingo, setembro 11, 2005
...
Minha mãe tem toda razão:

"Vontade dá e passa."
Tesão virtual
Não me canso de ler Xico Sá, por várias vezes, e até várias vezes o mesmo texto, sempre na internet. Droga de cidade cujos sebos não têm um livro dele! Vou-me embora pra Recife, lá conheço sebos de verdade.

E não me canso de copiar-colar Xico Sá aqui, é dele o texto abaixo. Aliás, por mim, transferiria o blog inteiro dele pra cá. Tesão!


NO QUE CONCERNE AO QUAERENS QUEM DEVORET
Ou procurando alguém para devorar. Assim o glorioso São Pedro, na primeira epístola universal, versículo 8, se refere ao capeta. Assim podemos nos ver em alguns momentos da existência, com a urgência da carne a nos tocar como um alarme histérico e necessário. Eliminemos o temor do arrependimento à luz de Santo Agostinho, que um dia, no altar da sabedoria, nos disse: “Senhor, livrai-me das tentações, mas não hoje!”.
Do que me faz diferente
Todos nós somos insubstituíveis, únicos, pela simples razão de que nenhum de nós é igual ao outro.
Rose Marie Muraro

Na verdade, em geral, acho as pessoas todas muito iguais. Na adolescência, tentamos ser diferentes e nos tornamos iguais exatamente pela diferença. Adultos, então, salvo exceção, a ordem é não aparecer. Nada de parecer fora do normal, nenhuma melancia na cabeça, nenhum comportamento bizarro. Iguaizinhos assim, estaremos mais seguros.

Mesmo assim, há sempre aquelas diferenças que acabam passando batida na linha produção de pessoas. Comigo não é diferente. Há aquelas coisas únicas - a maioria pequenas loucuras - que me tornam diferente.

Por exemplo, eu não conheço ninguém que escreva com a caneta entre o indicador e o dedo médio. No máximo alguém me disse que conhecia alguém que escrevia, o que dá no mesmo. Para todos os efeitos, sou só euzinha. Pois aprendi a escrever assim aos cinco anos, a professora tentou corrigir, minha mãe não deixou por que achava bonito e eu adoro contar essa história. Escrever com a caneta entre o dedo indicador e o médio faz a diferença.

Também não conheço ninguém que arranque a pele ao redor das unhas até sangrar [muahahaha] como eu. Vi um filme no qual a protagonista fazia algo parecido, e só. E faço isso nos dedos dos pés também. Nem preciso estar ansiosa, mas quando eu fico, a 'arrancação' de pele aumenta significativamente. Fico orgulhosa quando as manicures se espantam com minhas mãos e dizem que nunca viram nada igual. Ah, eu sou eu, né?

E tem a mecha do meu cabelo que eu enrolo em espiral, depois enrolo sobre ela mesma e coloco dentro do ouvido. Sensação única que [acho] só eu tenho. Nhammmm.

E as singularidadas hereditárias. Ninguém que eu conheça, além de mim e dos meus seis irmãos, dorme balançando as pernas e com o lençol enrolado sobre a cabeça. Lindo.

No cinema, eu acabo me tornando diferente por que detesto levar pipoca para dentro da sala. A não ser que esteja com meu filho, até por que vale tudo para cultivar a paixão por cinema nele.

Outra 'marca registrada' é a displicência com o celular. Quem me conhece e quer falar comigo já sabe que o celular é uma das chances mais remotas: esqueço em casa, ou no trabalho, ou na bolsa, mas dificilmente atendo as ligações em tempo hábil. Na verdade, o aparelhinho serve para registrar as chamadas não atendidas, para que eu possa ligar depois perguntando o clássico 'você ligou para mim?'

Sair com o carro com um destino e acabar tomando outro rumo por distração, isso eu também nunca vi. Mas eu faço, não sem uma ponta de orgulho.

No mais, praticamente normal. Ainda bem que não totalmente. E viva a diferença!
sexta-feira, setembro 09, 2005
Mensagem
Chegou em casa apressada, fechou grade e porta o mais rapidamente possível. Largou a bolsa em qualquer lugar e, para não perder tempo, tirou a jaqueta ao mesmo tempo em que ligava o computador. Os vários e-mails enviados por um desconhecido, nas últimas semanas, tinham tornado a sua rotina, sempre tão igual, no mínimo muito mais intrigante. Mal podia esperar, o computador demorou uma eternidade para inicializar, o correio eletrônico mais um século até abrir. Só então conseguiu ler: 'não há mensagens novas na sua caixa de entrada.'
quinta-feira, setembro 08, 2005
Desmandos
Liberdade, abre as asas sobre nós. Amanhã o namorado onipresente viaja e eu volto à combinação bombástica amigas + cinema + dançar. Pero no mucho, pois no sábado começam as provas do concurso público. Ansiedade.

Eu gosto dele, mas amo a liberdade. Ele é carinhoso, mas eu odeio ser acordada com beijos de manhã. Finjo que não ligo, mas o enorme conto erótico - ainda não publicado - que recebi do meu autor-favorito-delícia-virtual - e que li num só fôlego - me deixou bastante perturbada. E mostro sites eróticos para ele, mas só para despertar a curiosidade, por que eu apenas ensino a pescar pornografias. Ele é compreensivo comigo, mas me deixa tomar decisões sozinha e por isso eu me tornei uma tirana cruel, o que era de se esperar. Mando e desmando, dou ultimatos e pareceres sobre quase tudo, fico braba por qualquer coisa. Bons tempos, estes de totalitarismo. Só não bato nele por que ainda é cedo.

Eu sou quase eu quando estou com ele. Mais autoritária que o normal, menos pervertida do que realmente sou. Na média, acho que sou eu, sim. :)
quarta-feira, setembro 07, 2005
Sempre um papo
Eu não conhecia o projeto Sempre um Papo, iniciativa da Caixa aqui em Bras-ilha, encontros quase semanais com grandes nomes da cultura nacional. Eu fui por causa de Rose Marie Muraro, minha escritora preferida há mais de dez anos, para mim pensadora-gurua e feminista dileta. Todos, homens e mulheres, deveriam ler Rose Marie Muraro ao menos uma vez na vida. E escutá-la falar sempre que possível, como eu faço, todas as vezes em que ela esteve em Recife e ontem, a primeira oportunidade que tive aqui na cidade.

A palestra era sobre A Nova Sexualidade do Século XXI, mas a conversa girou em torno da Nova Ordem Simbólica criada e transformada pelas mulheres; a tendência à androginia nas relações entre homens e mulheres; perversão, pornografia e fragmentação da sexualidade; filosofia, patriarcado e mulheres no poder. Todos, homens e mulheres, deveriam ver o mundo pelos olhos quase cegos da genial Rose Marie Muraro, ao menos uma vez na vida.
terça-feira, setembro 06, 2005
Inconscientes


Já incluído na minha lista 'melhores filmes vistos nos últimos tempos.' Divertido, inteligente, inusitado. O site oficial é esse aqui.

sexta-feira, setembro 02, 2005
Como não esquecer um número que deve ser esquecido
* Começou assim:
Nos conhecemos numa noite quente e passível de deliciosos estados de leve embriaguez. Ele ligou para o meu celular, para que registrasse o número dele. Ah, eu devia saber... Aquela paixão doida me assombraria interminavelmente.

* Recomeçou assim:
Numa noite de fossa incurável e porre homérico, eu liguei para ele de madrugada. Ah, eu devia saber... A Martha Medeiros bem que avisou:
taça de champanhe
um disco rodando sempre o mesmo lado
crise
um telefone ao alcance da mão
um número decorado na cabeça
e uma aflição no coração
é aí que mora o perigo

* Agora é assim:
Tive que transferir a agenda do meu celular antigo. O número estava lá. Eu não apaguei?! Ah, eu devia saber... Quase cinemanovisticamente, agora eu tenho um um número na mão e uma idéia na cabeça. E o horror por toda parte.
quinta-feira, setembro 01, 2005
ESC
Na falta de coisa melhor para fazer, resolvi responder a um teste vocacional na internet. É, isso estava mal resolvido para mim desde os 15 anos, quando eu insistia que ia fazer jornalismo e minha mami bradava que eu fizesse serviço social. Escolhi biomedicina, sabe-se lá por que [na época eu sabia].

Resultado: E S C

E de Empreendedor: Pessoas que gostam de carreiras empreendedoras como comprador, promotor de esporte, produtor de televisão, executivo empresarial, vendedor, agente de viagens, supervisor e gerente. Normalmente tem liderança e habilidades para falar em público. É interessado em dinheiro e política. Gosta de persuadir os outros e é descrito como conquistador, aventureiro, agradável, ambicioso, exibido, dominador, enérgico, impulsivo, otimista, aventureiro, popular, autoconfiante e sociável.

S de Social: O tipo Social gosta de carreiras como professor, terapeuta, religioso, conselheiro, psicólogo e enfermeiro. Normalmente gosta de estar cercado de pessoas, está interessado em se relacionar bem e gosta de ajudar outras pessoas. É descrito como convincente, cooperativo, amigável, generoso, útil, idealista, amável, paciente, responsável, social, simpático, diplomático e compreensivo.Suas principais características são receptividade, responsabilidade, capacidade de persuasão, generosidade e tolerância.

C de Convencional: Pessoas que gostam de carreiras convencionais como contador, analista financeiro, banqueiro, contadores, secretário e despachante. Possuem habilidades em matemática, gostam de trabalhar em lugar fechado e organizar coisas. Apreciam atividades sistemáticas que exijam ordem. Preferem a regularidade no trabalho e, às vezes, são resistentes a mudanças. São pessoas calmas, metódicas, responsáveis, que desempenham muito bem tarefas em equipe. Gostam de seguir rotinas ordenadas e satisfazer padrões, evitando trabalhos que não tem direções claras. É descrito como cuidadoso, eficiente, honesto, obediente, ordeiro, persistente, prático e metódico.

Com essas qualidades todas, exibida, útil e ordeira, o que eu poderia ser?!

Segundo o teste, a carreira mais adequada seria a de administrador de logística.

Ainda bem que não fiz esse teste antes do vestibular.