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Estado de Coisas

terça-feira, maio 31, 2005
De Volta
Sempre volto de Recife algo entre melancólica e furiosa. Dessa vez, nem vou fazer meus habituais, repetidos e intermináveis relatos-ladainha sobre a felicidade de rever os queridos; o sentimento de pertencimento a um lugar; a diversão que é conversar com gente estranha na rua; o forró na Casa da Rabeca, um palco de cultura popular e muito forró; o cheiro do mar, a brisa, do mar, a visão do mar; a chuva esporádica sobre um calor de 28 graus, no 'inverno' pernambucano; meus muitos, novos, lindos, incomparáveis CDs... Ops, inevitável! O relato-ladainha já foi feito.

Chamou a minha atenção o meu 'desvício' de internet. Não que eu estivesse sem acesso, o micro do meu irmão ficava dando sopa a noite inteira. A questão é que, mesmo que eu conseguisse parar na frente dele, sem nada para fazer, não conseguia ficar por mais de 10 minutos conectada. Efeito Recife.

Mas o melhor de tudo foi ouvir de um pernambucano [e, óbvio, divino dançarino de forró] a quem, diante de seu convite para dançar forró, pedi que esperasse um pouco para eu terminar de fumar um cigarro, que eu estava fazendo 'ouvido de mercador' para o pedido dele. Nem sei se essa é uma expressão tipicamente pernambucana, mas o fato é que a ouvia muito, quando criança. Normalmente acompanhada do adjetivo 'maluvida'... Ir a Recife significa não só repor o meu estoque de CDs e de queijo coalho, mas também de expressões do tipo.

E agora, um cheiro pra vocês, que eu vou desfazer minhas malas. Voltar para Brasília é sempre um nó cego!...

Notinha explicativa para não-pernambucanos, a pedido de Ricardo [que namora uma pernambucana, hunft!]:
- 'fazer ouvido de mercador' significa não dar ouvidos, fingir que não ouviu, mas por descaso mesmo. Já o 'maluvido' deve ser uma redução de mal-ouvido que, na verdade, é quem faz ouvido de mercador, com um certo ar de má-criação. Acho que é isso. :)
domingo, maio 22, 2005
Roteiro Brasília
Sim, acho que finalmente aprendi a fazer o roteiro Brasília-aos-domingos-para-iniciantes-e-iniciados-todos-desesperados:

Público-alvo: eu e três colegas recém-chegados, duas gaúchas e um carioca.
Roteiro:
Ponto 1. Exposição fotográfica 'Arquivo Brasília', com cerca de 600 imagens da cidade, reunidas a partir de diversos arquivos. Impressionante.
Ponto 2. Feira da Torre de TV, artesanato, gente 'real' circulando e mirante a 75 metros, visão idílica da cidade psicopata.
Chave de ouro: Cinema na Academia de Tênis, PUTA filme, lanche antes, friozinho depois.

Feliz domingo para forasteiros desesperados.
Num domingo
Saudade e saudade, raiva de mim.
Saudade e saudade, pena de mim.
Saudade e saudade, confusão.

Saudade entorpecida
Recorrente
Estúpida
Provisória
Inevitável
Saudade e saudade, apenas saudade.

(...) Ia sendo bom
É tão difícil, tão simples
Difícil, tão fácil
De repente ser uma coisa tão grande
Da maior importância
Deve haver uma transa qualquer
Pra você e pra mim
Entre nós

E você jogando fora, agora
Vá embora, vá!
Há de haver um jeito qualquer, uma hora!
Há sempre um homem
Para uma mulher
Há dez mulheres para cada um
Uma mulher é sempre uma mulher etc. e tal
E assim como existe disco voador
E o escuro do futuro
Pode haver o que está dependendo
De um pequeno momento puro de amor

Mas você não teve pique e agora
Não sou eu quem vai
Lhe dizer que fique
Você não teve pique
E agora não sou eu quem vai
Lhe dizer que fique
Mas você
Não teve pique
E agora
Não sou eu quem vai
Lhe dizer que fique
Não sou eu quem vai.

Da maior importância - Caetano Veloso
Clear my mind...
Muita coincidência. Ia justamente escrever sobre como eu gostaria de apagar certas lembranças, por que, mesmo que eu não queira, elas me vêm em sonho, como na madrugada de hoje. Acordei pensando no filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e sobre como seria fantástico fazer o tratamento. Ao contrário de Clementine e Joel, eu não tentaria preservar lembrança alguma, das que preciso esquecer.

Daí, olha o site que eu encontrei, totalmente por acaso:
http://www.lacunainc.com/home.html

E o resultado da minha 'avaliação':
You are the prime candidate for the Lacuna procedure. While your past does not dictate your actions completely, it still affects your everyday life. You seem to have multiple memories that could be erased. Several initial visits will focus on sorting and removing these main issues. Any subsequent treatment will then be directed toward sustaining your newfound level of happiness. Please contact us soon, so your transformation can begin.

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Mas bastaria uma pergunta da tal avaliação, no meu caso:

3) Do you think your life would be better if certain people were never born?
[ ] never [ ] sometimes [ ] often [ ] always


A resposta é: ALWAYS, SIM, POR FAVOR, É TUDO QUE QUERO! BUÁAAAAAAAAAAA...

O fato é que adorei o site! :)
sábado, maio 21, 2005
Tragédia adolescente
A história:
Pessoa que conheci durante o Curso de Formação do último concurso público do qual participei. Interessante, bem-humorado, conversamos uma tarde inteira, durante a aula. Inventamos brincadeiras e apelidos para os colegas mais chatos. Um fofo. Não nos vimos mais.

A chance:
Encontro da instituição onde trabalho, todos agora já novos colegas de trabalho. Procuro por ele. No segundo dia, lá está ele, o mesmo fofo, agora sem barba. Comento com o meu amigo, espero ele passar, olho na direção dele. Nada, acho que nem me reconheceu. Buáaaaaaaaaaaaa... Meu amigo me consola.

A missão:
No último dia do Encontro, sem oportunidades para falar com ele, resolvo partir para uma estratégia mais agressiva. Falei para o meu amigo que a paixão platônica agora era ponto de honra. Meu lado adolescente falou mais alto. Eu tinha que conquistá-lo. Às armas.

O plano:
Certo, certo, eu estava [como todos no Encontro] dispersa demais. Daí para bolar, como diz o Cebolinha, um 'plano infalível', foi um pulo.
1. Eu escrevo um bilhete com o seguinte conteúdo: 'oi, Antonio, achei você muito interessante, desde o Curso de Formação. Espero que possamos conversar mais, algum dia. Beijos.' Anônimo, lóoooooogico.
2. Meu amigo entrega, em total sigilo, o bilhete ao amigo de Antonio.
3. Dias depois, Antonio pergunta discretamente ao amigo quem enviou o bilhete.
4. O amigo de Antonio repassa a pergunta ao meu amigo.
5. Meu amigo conta que fui eu.
6. Antonio me procura, confessa que sempre foi apaixonado por mim e que está feliz por, finalmente, encontrar a mulher da vida dele.
7. Eu e Antonio nos beijamos apaixonadamente. A cortina desce.
8. Aplausos.

Como tudo aconteceu, depois de eu ter fornecido cada passo do plano ao meu amigo:
1. Eu escrevo um bilhete com o seguinte conteúdo: 'oi, Antonio, achei você muito interessante, desde o Curso de Formação. Espero que possamos conversar mais, algum dia. Beijos.'
2. Meu amigo entrega o bilhete ao amigo de Antonio e comenta: 'é a que está sentada ao meu lado.'
3. O amigo entrega o bilhete a Antonio num roda de mais quatro pessoas, pelo menos. Todos voltam-se para a nossa direção.
4. Pergunto ao meu amigo se ele comentou sobre mim e ele diz: 'claro, você não falou que eu podia contar?!'
5. Eu penso em enfiar minha cara embaixo da cadeira, mas pondero que isso talvez chamasse mais a atenção.
6. Passo os últimos momentos do Encontro escoltada por duas colegas e sem olhar mais na direção do Antonio, embora ele olhe para mim por várias vezes [hohohoho], segundo minhas seguranças particulares.
7. Penso em matar meu amigo. Desisto.
8. Fujo do Encontro Anual do Meu Trabalho, de minhas seguranças e de tudo o mais.
quinta-feira, maio 19, 2005
Desce mais um Caio...
Hoje eu estou feliz, saltitante. Uma amiga conseguiu para mim, em Porto Alegre, mais dois livros de Caio Fernando Abreu. Sim, a vida é bela mesmo... E mal vejo a hora de colocar as mãos neles! Claro que a luta continua, há muitos títulos ainda por conseguir, mas 'Triângulo das Águas' é, sem dúvida, uma batalha vencida. Bom demais. :)

Para 'comemorar', um pouco de Caio:

Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso. A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
[Trecho do conto 'Lixo e Purpurina']
quarta-feira, maio 18, 2005
Quando eu estou...
Com vontade de fazer nada.

Impotente e sem ânimo para o sexo.

Com preguiça das pessoas.

Tão alheia que nem meu chefe lindo me desperta desse estado letárgico.

Louca para empurrar aquelas pessoas que andam atrapalhando, bem na minha frente.

Comendo potes e mais potes de cereais, alimento no qual me viciei recentemente.

Insone.

Ansiosa.

São sintomas de que minha validade estive-em-Recife expirou. Não menos que um mês, não mais que três meses.

Faltam três insignificantes dias para minha próxima viagem a Recife, depois de três intermináveis meses. Chegarei num "domingo de sol e nebulosidade variada com pancadas isoladas de chuva, com probabilidade de chuva de 70%" segundo o site Clima Tempo. Humpf, quem se importa?!

O fato é que, à exceção do Carnaval, tem sempre uma lista-de-coisas-para-quando-eu-estiver-em-Recife, cumulativa e infindável. A parte fixa inclui comprar CDs e comidas gostosas, encontrar amigos e dançar forró na Casa de Arlindo dos Oito Baixos. A parte variável inclui resolver problemas, ir no bar Entre Amigos - especializado em carne de bode, andar pelo centro da cidade, ir à praia, comer carangueijo, ir à Feira do Bom Jesus, ligar para um monte de pessoas, comprar artesanato e [novamente] dançar forró na Casa de Arlindo dos Oito Baixos. Tudo isso, é claro, depois de cumprir minha missão de trabalho, objetivo oficial, curtir meu lindo bebê e família, rever as tias e dançar na sala de casa com meus irmãos.

Só há uma maneira de cumprir todos os meus compromissos em Recife: voltar a morar lá.
terça-feira, maio 17, 2005
Das loucuras internáuticas...
...ou: como alguém lê teu pensamento sem nunca ter te visto na vida?!

Mensagem recebida em 16/05/05, ontem:

(...) as coisas já não são como foram no início(envolventes, entusiasmadas). Há um tédio, uma insatisfação. Tudo já foi experimentado, mas nada conseguiu realmente preencher. Belos e lindos momentos de prazeres ou não tão belos, nem tão lindos. Mas experiências que já terminaram. Não acrescentam mais nada ao seu espírito. O seu romantismo é muito mais uma nostalgia de algo que vc não sabe bem o que é. É uma sensação estranha, eu sei. É como se encantar por algo que não existe e se sente uma melancolia por isto não existir. Como diria Fernando Pessoa, "o que me dói nao é o que há no coração, mas essas coisas lindas que nunca existirão".
Mas este chegar a este momento, é raro e.., perigoso! Perigoso parar, temeroso continuar... o melhor seria saltar sem medo, mas nao há como não sentir medo. O que há depois do salto?
É neste momento que o Mestre aparece... e diz:

"Abra suas asas
não há nada a temer
nada a perder
Apenas esteja aberto ao sol,
às estrelas...

Não tenha medo. Sou sempre a favor do perigo, e isto é perigoso porque você está à beira da consciência. Esta é a hora que você quer parar, mas esta é a hora que eu quero que você continue, porque o perigo é lindo"(Osho)



O distante-próximo é inacreditavelmente bonito. Seja lá o que eu quis dizer com isso.
segunda-feira, maio 16, 2005
Declaração de amor
Não consigo mais imaginar a vida sem ele.

Lentamente, ele acabou ocupando todos os espaços livres. Sem cobranças, foi se instalando em minha vida sem que eu percebesse. Quando dei por mim, já estava ao seu dispor.

Todo mundo já sabe e, mesmo que eu quisesse, não conseguiria esconder. A minha cara sonolenta de contentamento pela manhã revela as madrugadas que passamos juntos. Na hora do almoço, também nos encontramos. Rapidamente, mas o suficiente para nossa mútua satisfação.

Desconheço limites quando estou com ele. Faço a vontade dele, e ele a minha. Ficamos frente a frente por horas, mudos e eloqüentes, e eu mergulho sem medo naquele mundo tão imenso que ele me oferece.

Ele assimila como ninguém os meus segredos, fotos antigas e códigos que até eu desconheço. Sem palavras, consegue me confortar e me apoiar nas horas mais difíceis. Sorrio de algumas coisas, me emociono com outras, ouço as músicas atentamente. Sempre há alguma descoberta.

Não me importo se as pessoas criticam. Ou se ele parece uma máquina sem sentimentos. Meu computador é o meu verdadeiro grande amor.
Patinha Feia Plus
Sim, o conto do patinho feio é real. E, sim, eu já fui [sou?] um.

Eu, na infância, até que era engraçadinha. Cabelos curtinhos, ao gosto de minha malvada mami, esquelética como uma Kate Moss. Às vezes com ar de moleque, fruto da convivência mais próxima com dois irmãos que têm idade próxima à minha. Estudiosa, fazia tarefas sozinha e já com disciplina militar. Tenho algumas fotos com meus livros, que guardava junto com minhas roupinhas de sair, na gaveta mais privilegiada do armário.

Na adolescência, os problemas começaram. Os óculos grossos para correção de miopia começaram a pesar como nunca. Cabelos curtos e crespos, nunca tive a liberdade de deixá-los crescer, pois era ainda minha malvada mami quem apitava no cabelereiro. A magreza excessiva deixou de passar despercebida e nem era o padrão da época. Pernas finas, finíssimas, parei de usar bermudas, por motivos óbvios. Olhos enormes num rosto cheio de espinhas. Um monstrinho vestido com conjuntos rosa-choque.

A propósito, as roupas eram um capítulo à parte. Modelitos da última década, reaproveitados dos irmãos mais velhos, afinal a escalada de sete filhos, um a cada dois anos, tinha que ter vantagens para os meus pais - como a de não precisar comprar muitas roupas para o bando. Eu, na condição de caçula, tinha o ônus de estar no final na fila das minhas roupas. Odiava todas elas.

A pior coisa desses período é que eu nunca era chamada para dançar nas festinhas da época. Música lenta e eu sentada pateticamente. Umas duas vezes que me chamaram, foi caso para paixão platônica alimentada durante semanas. Aliás, paixões platônicas não faltaram durante a minha fase Vandinha Addams. Decidi que era melhor não saber dançar. Em compensação, estudava feito louca - eu continuava amando as letras e números e células e fórmulas, tudo tão fascinante.

A virada, a revanche, o Dia Seguinte. Aos 20 anos, poucos dias depois da graduação, já estava empregada. Primeiro salário, fortuna perto da bolsa de iniciação científica que me sustentou durante três anos. Investimento: lentes de contato. O mundo como ele era e meu rosto a salvo das bolotas de metal que me acompanharam durante muitos anos. Salários seguintes, novas pequenas fortunas e era cabelos ondulados e compridos, roupas e mais roupas, as delícias da maquiagem, soltar o forró que esteve no meu pé o tempo inteiro, ouvir elogios, beijar bocas. Mundo enorme e cheio de pessoas.

Hoje em dia, quando alguém me elogia, ainda olho de lado, desconfiada. Cabelos que não cortei mais [sob protestos da mami malvada, hohohohoho] e óculos que só uso à noite, sozinha e com a luz apagada. Tenho esporádicos surtos consumistas e compro roupas sem culpa. Não tenho saudade da adolescência, mas a trouxe comigo para os bons tempos em que posso escolher com quem dançar. Por outro lado, preciso cada vez menos da aprovação alheia para me sentir bem. Sim, são bons tempos.

O patinho feio se foi, mas a menina obcecada por livros e a adolescente atirada nos estudos ficaram. Com a vantagem de que agora são exímias dançarinas de forró. :)
domingo, maio 15, 2005
Pequenos causos curitibanos
Para atestar a antipatia dos curitibanos:
Eu, me dirigindo à última pessoa da fila de um ônibus, no centro de Curitiba: por favor, esse ônibus é o que vai para Santa Felicidade?
Pessoa: não sei, deve ser...
Eu: ...

Para deixar a impressão definitiva de que sou chiliquenta:
Carro da Secretaria Municipal de Saúde dando voltas e voltas, motorista perdido, eu com casaco de couro, preparada para o frio, e o termômetro resolve bater em 25 graus, quatro pessoas falando sem parar, eu até pressentia o que ia acontecer:
Eu, com inegável tonalidade verde: por favor, parem o carro, acho que vou vomitar!
Tumulto, gente saindo do carro, uma Coca Cola à minha mão em alguns minutos, casaco de couro devidamente retirado. A cor verde aos poucos começa a sumir do meu rosto. Segue a programação normal.

Para que eu aprenda a ser mais direta:
Pessoa no centro me pede informação: por essa rua, eu chego na Augusta?
Eu: por essa rua... não sei!
Pessoa, ainda: algum ônibus que passa lá?
Eu: não, não sei se tem ônibus pra lá.
Pessoa aponta: mas aquela lá é a Catedral, não é?
Eu: desculpa, eu não sei informar. Na verdade, eu nem moro aqui, estou apenas por uma semana, a trabalho e...
Pessoa, interrompendo: ah sim, obrigada.

Para evitar perguntas desnecessárias:
Na soparia, noite gelada, delícia de programa, o cardápio oferece um 'vinho da casa na taça'.
Minha amiga pergunta ao garçom: qual é esse vinho da casa?
Garçom: é o vinho da casa, que vem em taças.
Eu: mas qual é o vinho?
Garçom: vinho tinto.
Nós duas: ...
Uma de nós, recuperada da falta do que dizer: duas taças, por favor.

Por que ninguém sabe ao certo a hora de beijar:
Lindo, dançou comigo a noite toda numa boate. Gentil, saímos de braços dados. Irresistível, me olhava interessado. Um longo abraço na hora da despedida, algumas frases carinhosas ao ouvido.
Eu: obrigada, querido, foi tudo ótimo.
Ele se aproxima mais, beijo no canto da boca, daqueles que aconteciam [na minha época] lá pelos doze anos, pouco antes do primeiro e aguardado beijo. Fomos dormir, cada um no seu quarto, nada de beijo.
O que era mesmo que eu fazia para avançar o beijo do canto à boca?
sábado, maio 14, 2005
Nó Cego (Pedro Osmar)
É você a pessoa que deu
Um nó cego em meu peito
De apaixonado?

É você
O mascarado que me trancou
Nessa noite sem amor?

É você amigo?
É você o inimigo?
É você o perigo
É você

É você a garra de fome
Que atormenta o presente?
É você que mente muito?

Que me engana?
Que me rouba
Da vida?
Sexo verbal
A vida é estranha, evolui tão lentamente...

Leva-se um ano apenas para ficar de pé, ainda cambaleante, e balbuciar algumas palavras, na maior parte das vezes incompletas.

Mais dez anos para descobrir que somos meninos ou meninas e que alguns órgãos menos comentados têm outras finalidades outras, além das que conhecemos. Dúvida.

Novamente, mais uns dez anos até começar a sair só, concretizar a principal finalidade, antes secundária, dos tais órgãos, ainda misteriosos. Esse exercício traz dúvidas, dor, confusão, gozo, medo, vício.

E aí, é só aguardar o novo ciclo de dez anos para conhecer a perversão plena, aquela que permite percorrer todas as vielas escuras desse caminho acidentado, mesmo que às vezes não sem certa culpa, mas efetivamente desfrutando o que cada milímetro de pele pode nos oferecer. O prazer vem num ímpeto, em alguns momentos o delírio total, vez em quando doses homeopáticas de sua promessa, ou até como feliz desespero prolongado.

A partir daí, restam mais uns dez ou, num cenário melhor, vinte anos para aproveitar ao máximo o que descobrimos a duras penas. Vida estranha...

Vida que não é mais do que a descoberta fugaz, atropelada e deliciosa do sexo.
Mãos
Deveria ser mais fácil caminhar de mãos dadas. Deveria ser fácil também soltar as mãos, na hora em que estivessem cansadas, ou ansiosas por liberdade, ou em busca de outras mãos. Mas não é.
sexta-feira, maio 13, 2005
Eu poderia precisar de um namorado para...
Sair e me divertir...
se eu não tivesse amigas com quem faço isso, com a vantagem de não ter que ficar bem comportada.

Ver cinema...
se eu não preferisse fazer isso sozinha. Odeio que falem QUALQUER COISA comigo no momento em que estou assistindo um filme.

Viajar, conhecer lugares...
se eu não tivesse quinhentas viagens a trabalho programadas, de forma que pensasse em outra coisa que não seja em voltar a Recife no tempo que me sobra.

Ter alguém para me proteger...
se eu não achasse todos os homens que conheço tão fracos, que eu acabo por manipulá-los, mais cedo ou tarde.

Andar de mãos dadas...
se eu não roesse unha e pele dos dedos e não precisasse levar a mão à boca a cada cinco minutos.

Ficar bonita para alguém...
se eu fosse mesmo vaidosa.

Fazer sexo...
se eu não gozasse tão bem sozinha... uhaaaaaaaanhammmmmmmm...
quinta-feira, maio 12, 2005
Deslua em Touro
A previsão semanal para Áries diz: a Lua Nova no signo de Touro vai pedir duas qualidades difíceis de serem integradas na vida dos arianos : a paciência e a aceitação da realidade. Se essas duas condições forem atendidas, o tempo que está começando pode ser extremamente próspero e produtivo.

Nem paciência, nem aceitação da realidade. O que me sobra esta semana é mau humor, irritação, intolerância, falta de vontade. Ando uma pilha. Por um lado, me dou razão: não é fácil ouvir burrices diárias e ininterruptas no trabalho; ter que desacelerar por que meu ritmo de trabalho é absolutamente incompatível com o da maioria; ir a uma festa porcaria em plena terça-feira e perder uma boa noite de sono; ter que ouvir desaforos de um qualquer que me paquerou num bar, no domingo e que, por isso, achou que eu estava disponível.com para qualquer esquema que ele armasse; suportar minha insônia todas as noites; imaginar o que a Daniela Cicarelli fará com R$ 15 milhões moles, ganhos com a separação...

Acho que eu preciso de uma boa noite de sexo. Ou de um bom mês de férias em Recife. Ou de uma boa noitada com amigas. Ou de uma boa bomba nuclear.
terça-feira, maio 10, 2005
Testemunho
1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
"Delta de Vênus", de Anais Nin, por que eu amo aquelas histórias e por que sinto os personagens na pele.

2. Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por um personagem de ficção?
Impossível não se deixar levar por Daniel, de "Cleo e Daniel" [Roberto Freire].

3. Qual foi o último livro que compraste?
Comprei "O Zahir" de Paulo Coelho [sim, eu gosto dele, grrrrrrrrrrr] e ganhei "O Código da Vinci", de Dan Brown. Estou terminando ambos.

4. Que livros estás a ler?
Os que citei na pergunta anterior e relendo pela décima vez "Cartas", de Caio Fernando Abreu.

5. Que cinco livros levarias para uma ilha deserta?
"Os 100 Melhores Contos do Século", uma coletânea maravilhosa; "Topless", de Martha Medeiros; "O Manual do Guerreiro da Luz", de Paulo Coelho; "A Casa dos Budas Ditosos", de João Ubaldo Ribeiro; "Epidemiologia - teoria e prática", de Maurício Pereira [:S]; a Bíblia, certamente; livros de poesias, especialmente "Corpo", de Carlos Drummond de Andrade... e algum de auto-ajuda, do tipo "Como Ser Feliz Vivendo Numa Ilha Deserta"... :)))

Ops, mais de cinco!

6. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e por quê?
Ah, a todos que quiserem fazer. Eu fiz , sim, foi bom, meu bem!
domingo, maio 08, 2005
A qualquer hora...
Era a hora, ele havia chegado. Ela sorriu meio sem graça, pediu que entrasse. Nenhuma expectativa, pouca ansiedade. Um aperto rápido de mãos, seguido de um abraço terno. A timidez inicial dava lugar à curiosidade.

Durante o abraço, ela lembrou de como ele pareceu lindo e especial no dia em que se conheceram. Ele recordou do casaco pesado e cinza que ela usava, era um dia frio. Ambos lembraram do inevitável e indecifrável encontro de olhares.

E agora, que estavam tão próximos, tudo parecia meio distante. As desilusões de ambos, histórias tristes, passado de desencontros. O casamento fracassado dele, a mulher a quem havia dedicado todo o afeto que havia em si. A última paixão que ela teve, doentia, absoluta e interminável.

A música alegre, o vinho sobre a mesa, a conversa fluida e sorridente. Logo depois, a dança, a festa, os abraços inevitáveis. Corpos que se desejavam, corações que se repeliam. Fim de noite, despediram-se com uum longo abraço. Um dia haveria de ser, o tempo diria, quem sabe amanhã. Nunca mais se reencontraram.
sexta-feira, maio 06, 2005
Sobre genes e paixão
Meu filho de nove anos, há cerca de um mês, me revela um de seus segredos [costumo ser sua habitual confidente]: está APAIXONADO por Mariana, colega da escola.

Oh céus, não pode ser! Mantenho a calma, pensamento em pleno redemoinho, pobre criança pré-adolescente... Medo que ele seja rejeitado, que a menina seja uma chata, que descubra a desilusão antes do que deveria, que pense em namoro tão cedo. Tento conversar com serenidade a respeito, mas meu coração de mãe fica apertado.

Hoje, ele me disse, com uma certa banalidade: não está mais apaixonado por Mariana. Segundo ele: primeiro, por que ela gosta de Luiz Felipe. E segundo, por que ela mesmo confessou isso aos outros, que contaram para ele. Não quer gostar de quem não gosta dele, haverá certamente outra menina mais bonita e com nome mais bonito. E o melhor [a doce vingança, hohohoho], Luiz Felipe não gosta dela, mas de Haiana, Maria Eduarda e Sofia. Sim, as três.

Concordo, comento que só vale a pena gostar de quem gosta da gente. E, ufa, felizmente ele não herdou o meu gene 'vou-morrer-de-amor-sempre-que-quem-eu-quero-não-me-quer'...
Curitiba [não] me engana...
Curitiba não é a mesma. A cidade impecável que me impressionou há alguns anos por sua perfeição e fez buscar meios para sair de Recife exibe sinais nítidos de degradação. Violência, miséria exposta, favelas, tráfico de drogas. A cidade saudável com melhor qualidade de vida do país acabou por atrair mais gente do que deveria. O resultado está nas ruas, agora com pedintes, crianças de rua, gente sem rumo.

Em meio a tudo, o frio delicioso, o jeito de cidade correta, o 'como deve ser' uma cidade, a antipatia cordial do povo curitibano e as praças que eu mais amei na vida. Mais ainda, conheci a noite dançante, os bares cheios de gente bonita e com um ótimo atendimento, o comércio tentador. No final, é a mesma Curitiba que eu adoro loucamente.