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Estado de Coisas

segunda-feira, maio 29, 2006
Trecho
"Houve nessa tarde dois momentos que me inquietaram. Quando disse dos dois únicos homens de sua vida, falou rapidamente, sem me olhar, e saltando logo da cama, foi fazer chá. Como se não pretendesse se estender sobre o assunto e nem estivesse tão convencida dele. Voltou da cozinha e não me deu tempo para falar. A me acariciar. Aos poucos, o olhar se transformou. Transparente, de tal modo límpido que parecia me atravessar. Ia além de mim. Havia felicidade pelo amor que tínhamos acabado de fazer. E íamos fazer de novo, estava chegando. No entanto, subitamente, seu olhar me ignorou. Fixou-se num ponto indefinido, naquela pessoa que não existia. Sorrindo, sem sorriso. Foi somente mais tarde, bem depois, quando o inexplicável afastamento já tinha começado, ela a escorrer mansamente, em silêncio (Como podia ser tão tranqüila enquanto as coisas iam por água abaixo?), é que descobri. O olhar-câmera, aquele em que ela não via ninguém. Dirigido a todo mundo, subdividido a cada um em particular, acessível, e sem se deixar possuir."

(do livro O Beijo Não Vem da Boca, de Ignácio de Loyola Brandão)
Mais uma dose
Primeiro é um leve torpor, como se a cabeça começasse a sair do eixo estabelecido e passasse a entrever frouxamente outras sensações.

Depois as sensações se aproximam, lenta e harmoniosamente: uma pequena euforia, uma ponta de saudade, uma certa languidez e a certeza de não pertencer a nada.

Corpo leve, mas ainda consciente. Olhar sagaz, mas também complacente. E a companheira perfeita, a música, invadindo todos os sentidos.

Mais um gole, um meio sorriso e o mundo gira suavemente. É hora de saber dosar as sensações - é preciso ritmo, velocidade, cadência, volúpia e equilíbrio.

A alegria não deve ser escancarada, a tristeza não pode ser depressiva, a saudade é o reencontro com momentos que pareciam perdidos mas que estão lá, na confusão da mente, esperando, serenos, pelo momento de serem resgatados.

Beber é a arte de ativar sentidos, prolongar sensações, recuperar perdas e conciliar pensamentos desconexos. Isso deve acontecer apenas pelo tempo necessário, deixando um rastro de pequena culpa e renovando a alma para o que vier, a partir de então.

Beber bem é renascer.
Perfeição
"Se a vida perfeita, todo dia faria sol, em todo mar as ondas quebrariam, cada música seria reggae e toda fumaça faria a cabeça."
(escrito na contracapa de um livro usado que comprei)
domingo, maio 28, 2006

Simplesmente, uma festa da porra!

PS: Del Rey é uma banda-projeto, formada pelos músicos do Mombojó e pelo cantor China, para tocar somente músicas de Roberto Carlos. \o/

quarta-feira, maio 24, 2006
Hoje
Hoje uma estúpida nostalgia me fez querer voltar o tempo por uns instantes (e ele não volta).

Não existe mais a saudade latente, nem a vontade desesperada. Mas existe a aflição resignada de uma perda que talvez nem cheguei a ter, que vez por outra me toma de assalto e faz pensar em tempos e erros cada vez mais distantes.

Hoje uma estúpida alegria me fez imaginar a razão pela qual a distância nos mantém próximos de coisas que passaram (e não passam).

Cabe tanta coisa no sentir, esse território sem limites que é de ninguém, por mais que a gente passe a vida inteira tentando remover excessos. Cabem sentimentos contraditórios e inexplicáveis, que nos acompanham fielmente, por mais que os desprezemos. São as pequenas loucuras de estimação.

Hoje uma estúpida saudade me bateu à porta, como se eu ainda devesse satisfações a ela (e acho que devo).

Inútil tentar explicar como é possível amar pessoas que não tivemos, exigir o que nunca foi nosso, carregar saudades vazias. Talvez a beleza do sentimento descomprometido com regras, distância e necessidades seja estranhamente sedutora.

Hoje uma estúpida euforia me fez ler e reler o mesmo e-mail mil vezes, como se nada tivesse mudado (quem sabe o que mudou?)...
terça-feira, maio 23, 2006
Testemunho
Sim, ele estará perto de mim em breve. Num incrível testemunho de paixão, esse homem modificou toda a sua trilha para ficar próximo de mim. Possivelmente eu nunca tive alguém que me quisesse tanto. Certamente eu nunca quis tanto ser feliz ao lado de alguém.

Sem promessas ou cobranças, avançamos pedaços enormes do viver. Pouco tempo, um ano no próximo dia 09, mas ele esteve aqui a vida inteira. Meu homem, meu companheiro, meu marido - já posso dizer.

Agora, espero que ele chegue com mãos e sorrisos, para uma vida juntos, para momentos da vida, para o que for. Prometo apenas noites sorridentes e dias gentis. Quero estar com esse homem e quero que ele esteja comigo.
domingo, maio 21, 2006
Crise
Voltar para casa não tem sido tão fácil quanto eu imaginei.

Há o bebê de um dos apartamentos vizinhos que me acorda, aos berros, de madrugada. O meu desânimo para qualquer coisa relacionada ao trabalho. A dificuldade de reorganizar a rotina. A inércia. A espera por ele, que já demora três longos meses.
:(

Mas há também boas novas: no próximo mês, eu voltarei a estudar, seis anos após a última vez em que levei aulas a sério, durante o mestrado. Vou começar a fazer disciplinas isoladas, de olho num certo doutorado, no próximo ano.
.\o/.

Entre dificuldades e boas novas, eu tenho apenas uma certeza: preciso me embriagar com urgência.
sábado, maio 20, 2006
A Hora do Trem Passar
Composição: Raul Seixas/Paulo Coelho

Você tão calada e eu com medo de falar
Já não sei se é hora de partir ou de chegar
Onde eu passo agora não consigo te encontrar
Ou você já esteve aqui ou nunca vai estar
Tudo já passou, o trem passou, o barco vai
Isso é tão estranho que eu nem sei como explicar

Diga, meu amor, pois eu preciso escolher
Apagar as luzes, ficar perto de você
Ou aproveitar a solidão do amanhecer
Pra ver tudo aquilo que eu tenho que saber

Para ouvir
Frases feitas (sem nenhum esmero)
"A estupidez é a escolha dos tolos, para colocar o seu destino nas mãos de outrem."
Reginin L. King

"As palavras, quando ditas, não voam simplesmente, num vento incerto. Tomam forma, cor e volume, deixam rastros, criam novas formas de sentir e agir, e só então seguem seu rumo, satisfeitas."
Regines Chaplin

"A vida não é mais que o (duro) exercício da constatação sobre a nossa própria (absoluta) solidão."
Reginean P. Sartre

"E é o que resta contabilizar: ganha-se hoje, perde-se amanhã, e tudo permanece igual."
Reginao-Tsé

"O grande enigma do sexo é: às vezes desesperadamente vital, em outras totalmente supérfluo, ninguém sabe o que dele fica, além da preguiça sonolenta.
Reginês de Sade
Novo endereço
Finalmente, consegui mudar o endereço do blog. Depois do meu orkuticídio, o endereço foi divulgado no Orkut, sem o meu conhecimento, e eu fiquei à mercê de visitas indesejadas, embora muito queridas.

Considero esse espaço, às vezes, como um depósito de coisas íntimas, difíceis de expressar e impossíveis de revelar/explicar para certas pessoas. Em outros momentos, o blog é apenas o registro despretensioso do meu cotidiano, mas ainda assim numa leitura muito reservada. Meus contos, minicontos e poemas, então... esses eu não revelo na vida real, nem sob tortura. Além de serem extremamente pessoais, corro o risco de achá-los muito ruins após algum tempo. Sou extremamente crítica com eles.

No mais, a sensação de liberdade de voltar ao anonimato, ainda que seja um anonimato incompleto. Espero que sem mais vazamento de informações ou surpresas. Quero apenas escrever sobre tudo o que passa nessa minha desvairada cabeça, sem a sensação de limites.
sexta-feira, maio 19, 2006
Dialogando com portas





www.malvados.com.br


A vida é realmente cheia de experiências novas, desafios e blá-blá-blá.

Por exemplo, eu nunca havia trabalhado com tanta gente burra quanto no meu atual local de trabalho. Falo de gente desinformada, sem conteúdo, maledicente, que fala errado e escreve um documento pedindo o conCerto de uma geladeira. Não adianta conversar sobre os últimos acontecimentos, a política institucional, filmes em cartaz ou o livro que estou lendo. O assunto é sempre alguma asneira que certamente não me interessa e/ou que, em absoluto, vai me acrescentar alguma coisa útil.

Nem é que eu seja tão inteligente assim, mas perto deles me sinto o supra-sumo da intelectualidade francesa. Quase uma Simone de Beauvoir. E é constrangedor. Por que, convivendo com gente burra, restam duas opções: 1) manter-se à parte de toda aquela estupidez e parecer esnobe; 2) entrar na dança dos burrinhos e me tornar um deles, tão iguais e infelizes.

Conviver é ensinar-aprender-ensinar, eu acredito nisso. Paulo Freire diz que reconhecer os saberes socialmente construídos é fundamental para o processo pedagógico. Mas ele só disse isso por que não passou uns dias no meu local de trabalho.
sexta-feira, maio 12, 2006
Para Gostar de Ler... Séquizo


Compra e venda de livros eróticos, a fina flor da safadeza por quem entende do assunto, aqui:
Blog de Livros Eróticos





A imagem é Manhã Ensolarada, de John Nicholson.
segunda-feira, maio 08, 2006
Gafes
Adorei o texto de Xico Sá, publicado no site No Mínimo, sobre as gafes de Geraldo Alckmin no Nordeste. Eu acrescentaria que normalmente bebe-se água de côco com canudo, ou transfere-se para uma jarra e daí para um copo - numa das campanhas de FHC, em passagem pelo Nordeste, o ex-presidente colocou o côco diretamente na boca, tsc tsc tsc...

Breve guia para Alckmin evitar novas gafes no Nordeste
1) Nem todo nordestino é baiano, embora todo baiano seja nordestino; portanto, nada de orgulhar-se de uma certa baianidade em pleno território inimigo, como em recente visita a Pernambuco, estado que mantém uma rixa eterna com a Bahia, talvez bem maior do que a do Rio x São Paulo.
2) Aquela linha de costura da buchada de bode não é retirável e muito menos é fio dental; come-se com linha e tudo, manda a boa etiqueta dos sertões e veredas.
3) Burro não é jegue, jegue não é burro; jegue é o mesmo que jumento, pois. Todo cuidado é pouco na hora de montar-se. Em tempo: o jegue é conhecido no folclore nordestino como o mais bem-dotado dos animais, símbolo de virilidade e macheza.
4) Tudo aquilo que não é capital, não é obrigatoriamente sertão. Existem o litoral, a zona da mata, o agreste… até chegar à paisagem sertaneja de fato.
5) O padim Ciço, aos pés de quem se ajoelhou em Juazeiro do Norte recentemente, foi excomungado pela santíssima igreja católica, incluindo a Opus Dei, ordem à qual vossa excelência cultua e pertence.

http://ponteaereasp.nominimo.com.br/
A Desciência da Ciência (ou vice-versa)
Tinha que ter alguma explicação para o fato de que eu não sinto vontade de beber e, quando bebo, fico rapidamente enjoada e, se insisto, me vem uma - já familiar - terrível dor de cabeça, que me deixa arrasada durante o dia inteiro. Fui a um médico naturalista (ou melhor, ele veio a mim, mas isso é outra história), que fez aquele exame na íris, sobre o qual eu não sei nada, mas no qual eu acredito piamente. Bingo, o fígado é um dos pontos sensíveis do meu corpo! Não sei explicar cientificamente por que eu desenvolvi uma certa intolerância ao álcool, em qualquer concentração acima de duas doses. Bebo menos, em menor velocidade e, mesmo assim, com uma certa dificuldade.

Quanto à cientificidade dos fatos, cabe uma observação: eu tenho me tornado cada dia mais cética quanto a quase tudo que leva o rótulo de 'científico'. Por que esse adjetivo tem sido usado, ao longo dos séculos, para justificar qualquer disparate, desde medicamentos venenosos até a superioridade masculina.

Esse papo me lembra um certo colega de faculdade. Numa aula de Imunologia, fomos apresentados ao tradicional desenho da reação antígeno-anticorpo. Em seguida, deveríamos observar a mesma reação na "vida real", ao microscópio, onde é visualizada como uma granulação menos ou mais intensa. O colega perguntou onde ele poderia ver, no microscópio, algo semelhante ao desenho projetado pela professora, e foi motivo de risadagem. Ele estava certo. As muitas reações esquematizadas em livros e aulas pelos cientistas não passam de fantasias. Sabe lá se não são os anticorpos, e sim quaisquer outras coisas misteriosas e ignoradas, os responsáveis por nos defender dos ataques de outras tantas criaturas tão imaginadas quanto desconhecidas?...

Nesse clima anti-científico e incrédulo, tenho uma explicação para a minha Síndrome de Leve Repugnância ao Álcool: três anos de muita vodka em Brasília iniciaram o processo de saturação e cansaço do meu fígado que, cansado de depurar álcool do meu sangue, mandou um alerta laranja. Tudo assim mesmo, bem simplista, lúdico e sem muito fundamento. Por que se a vida é assim, a ciência não pode ser diferente.

A mesma base anti-científica pode explicar por que continuamos nos sentindo solteiros, mesmo depois de casarmos "direitinho" e de "papel passado." A vida de solteiro é marcada por hábitos, sinais e sensações que acabam por impregnar todo o organismo. Mesmo depois de encontrar a tal pessoa que dá fim à condição de solteiro, de estar tudo bem, calmaria e ventos brandos, o corpo continua a mandar sinais de solteirice para o cérebro. É daí que vem a vontade de sair com amigas para dançar até o dia amanhecer, os segredos, as taras e uma certa sede de sedução. Ainda bem que o fígado saturado manda sinais contrários para o mesmo cérebro e, quando eu penso que para fazer tudo isso eu precisaria beber, concluo que o melhor mesmo é em ficar em casa assistindo The O.C. A mesma Síndrome de Solteirice Impregnada nos faz titubear diante da pergunta "estado civil?" e que causa uma certa surpresa-quase-constrangida nas pessoas quando ficam sabendo que estamos... errrr... casados.

A ciência também deve explicar por que seriados americanos açucarados são tão irresistíveis para pessoas com Síndromes de Leve Repugnância ao Álcool e de Solteirice Impregnada.
sábado, maio 06, 2006
No Google
Fiquei surpresa ao constatar que o meu blog velho é o primeiro na pesquisa Google por "flores de plástico." Este aqui é o segundo. Achei a pesquisa incoerente, pois não entendo por que o blog velho teria um número maior de acessos que o atual.

*observação-interessante-sem-importância* Ah, é sábado, eu fui ao teatro, mas continuo elétrica. Pesquisar nomes no Google é a melhor atividade que encontrei nesse momento.






















De qualquer forma, o Google é a perfeita Torre de Babel. As pessoas chegam aqui procurando por coisas totalmente esdrúxulas, como: "tratamento de fungos em unhas em brasília"; casaco couro - couro pele - curitibanos; "tonalidade cabelo clementine"; depiladora recife; ou mesmo a singela busca por "renato." Acabam aumentando o número de acessos e, portanto, a "popularidade" do blog no Google.

Pior ainda, quem porventura fizer a pesquisa que eu fiz, o óbvio, "flores de plástico", provavelmente não estará procurando por um blog cheio de bobagens de alguém que escreve sobre buscas no Google em pleno sábado à noite.

Tenha dó.
Rápida novela com a Telemau
Capítulo I
Estava eu alegre e conformada com minha conexão discada, até descobrir, na minha conta telefônica, que a Telemar incluiu, sem a minha solicitação ou autorização, o serviço Velox, de banda larga. E vem cobrando por ele desde o dia 25 de abril, sem que eu soubesse.

Capítulo II
Peço o cancelamento do serviço e sou informada que, nesse caso, teria uma multa de mais de R$ 300,00 a pagar. Dois dias de discussões histéricas com os atendentes da Telemar e uma queixa na desmoralizada Anatel depois, pondero sob o ponto de vista de um dos irritantes atendentes: uma ação judicial vai me levar tempo e dinheiro e pode ainda não dar em nada.

Capítulo III
Esqueço tudo o que me disseram sobre direitos do consumidor e solicito a configuração do modem e tudo o mais. Duas horas de espera e suporte técnico depois, tenho novamente uma conexão rápida. Aliás, rapidona. Estamos aqui, felizes e apaixonados: eu e o sinal ADSL que nunca pedi.
sexta-feira, maio 05, 2006
Do Novíssimo Dicionário Descompensado
Saudade:
Do latim 'soldadus', que significa 'guerra contra um sentimento indefinido de falta: de não-sei-quê ou não-sei-quem, que conheci não-sei-onde, mas que, não-sei-bem-por-que, às vezes desperta uma certa angústia.'

Angústia:
Do latim 'agostus', que significa 'mês chuvoso e/ou sensação de pesar.'

Pesar:
Do latim 'pesadus', que significa 'peso na consciência por erros cometidos num passado próximo ou distante, misto de tristeza e desespero.'

Desespero:
Do latim 'despesa inesperada', que significa 'o estrondo do cartão de crédito num determinado mês, levando a sentimentos de saudade, angústia, pesar e desespero.'
quarta-feira, maio 03, 2006
Enigma
Meu cavalo pelo vale
vento no canavial
sol na pele
avermelhando a nossa cara-pálida
da cidade...

eu, você e só
todo mês de maio na maior...

Sempre quero entender, principalmente durante o mês de maio, a cada ano, o que bulhufas Guilherme Arantes quis dizer nessa música.

Ou talvez seja melhor não saber.
Síndrome da Mala Vazia
Hoje fui levar o namorado-marido - que veio passar o feriado comigo - ao aeroporto e, por um minuto, senti falta de minha vida agitada de há dois anos atrás. Nessa época, eu viajava feito doida (pelo menos uma vez por mês), meu telefone no trabalho não parava de tocar e eu tinha sempre alguma coisa importante a dizer, fazer ou escutar. Era um tempo de trabalho incessante, em que eu achava que era indispensável e as coisas aconteciam numa velocidade intensa. Eu dormia e acordava trabalho.

As viagens eram um capítulo à parte nesse período. Não que eu tivesse tempo para conhecer as cidades como eu gostaria, mas eu gostava também do que vinha antes da viagem, toda a preparação da mala e do material de trabalho, e depois, o voltar para casa e desfazer tudo. Observar a gente de cada lugar, comida, comportamento, assunto, feições e músicas.

Olhando para a minha mala em cima do guarda-roupa há alguns meses, sinto algo que deve ser parecido com a síndrome do ninho vazio, aquilo que as mães dizem que sentem depois que os filhos ganham o mundo. Nada de movimento, check-in e outras cidades em minhas mãos. Minha vida agora é uma calma só, com um trabalho que eu nem domino ainda. Vou ao Porto no máximo duas vezes por semana e, no máximo, conheço alguns navios e olho para mercadorias e mais mercadorias importadas. Tento organizar o muito tempo que me sobra, entre cuidar de mim, de meu filho, de meus pais. É tempo de cuidar.

É certamente uma nova fase, de volta para casa e com tempo de sobra. Meu corpo até reclamou e adoeceu, uma gripe que me botou no chão durante as últimas semanas. Às vezes eu preciso de agito. Mas agora só quero ficar quietinha e tentar ouvir o que a vida tem a me dizer com essa pausa. O problema é que ela está falando bem baixinho.