Primeiro é um leve torpor, como se a cabeça começasse a sair do eixo estabelecido e passasse a entrever frouxamente outras sensações.
Depois as sensações se aproximam, lenta e harmoniosamente: uma pequena euforia, uma ponta de saudade, uma certa languidez e a certeza de não pertencer a nada.
Corpo leve, mas ainda consciente. Olhar sagaz, mas também complacente. E a companheira perfeita, a música, invadindo todos os sentidos.
Mais um gole, um meio sorriso e o mundo gira suavemente. É hora de saber dosar as sensações - é preciso ritmo, velocidade, cadência, volúpia e equilíbrio.
A alegria não deve ser escancarada, a tristeza não pode ser depressiva, a saudade é o reencontro com momentos que pareciam perdidos mas que estão lá, na confusão da mente, esperando, serenos, pelo momento de serem resgatados.
Beber é a arte de ativar sentidos, prolongar sensações, recuperar perdas e conciliar pensamentos desconexos. Isso deve acontecer apenas pelo tempo necessário, deixando um rastro de pequena culpa e renovando a alma para o que vier, a partir de então.
Beber bem é renascer.
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