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Estado de Coisas

domingo, agosto 31, 2008
Na imaginação
Às vezes, momentos importantes da vida passam sem registro. Lugares, pessoas, sensações. Nenhuma foto, nem anotações rápidas ou qualquer outra prova material.

Ficam as lembranças. Frágeis, etéreas, escorregadias. Mas ficam. E insistem, e se afirmam. Crescem. Podem até parecer maiores e mais exuberantes que o próprio momento. Permanecem. Imaginação não é um bom lugar para se guardar certos momentos.

Às vezes, o melhor mesmo é fazer um registro qualquer. E o momento vira apenas uma foto num canto de gaveta.
quinta-feira, agosto 28, 2008
:(
Gripe, mais uma. A terceira ou quarta desde que voltei para o DF. Já tô começando a achar que estar gripada é um estado normal e que estou doente quando meu nariz não se comporta como uma torneira.
terça-feira, agosto 26, 2008
Estranheza
Desde o último final de semana eu estou completamente sem vontade de beber.

Mas eu queria muito estar com vontade de beber.
segunda-feira, agosto 25, 2008
Castelo de areia
Quando ela disse "eu quero", ele respondeu "não agora".

Então ela disse "eu espero" e ele deixou escapar um sutil "melhor não".

Ela resolveu não esperar e voltou a viver.

De vez em quando mandava um "tudo bem?" e ele devolvia um lacônico "sim".

Um dia, assim, como numa ficção, ele enviou um "te espero amanhã?"

E ela, atordoada, mandou um "é claro!"

Ele não foi e apenas disse "não deu".

Foi quando ela, sentada no chão, escreveu uma frase daquela música na areia da praia:

"desejo e sina..."
sábado, agosto 23, 2008
Tolerância zero
Dizem que o nativo de Escorpião não perdoa uma traição.

Eu sou ariana, ascendente em Gêmeos (ughhh!). Mas, tal como os nascidos entre 23 de outubro e 21 de novembro, não perdôo traição. Nunca. Sem segunda chance.

O problema é que eu não uso nenhuma placa de advertência a respeito. E as pessoas vêem esta ariana esquentada e instável, e acham que eu vou explodir e voltar à forma original em seguida.

Não.

Eu simplesmente não consigo perdoar. Não é que eu faça um esforço tremendo para deletar a pessoa, ou que fique dias ou semanas ruminando a sacanagem.

Não.

Eu simplesmente apago a pessoa de minha vida e passo a ignorá-la a partir de então.

Uns não entendem nada, outros insistem achando que eu sumi por acaso, alguns compreendem o código do silêncio.

E eu sigo, achando que não perdi nada.

Como ariana, eu sou uma ótima escorpiana.
sábado, agosto 16, 2008
Precisa-se
não achei que sentiria falta dela assim, com urgência e ardor, mas...

preciso

rapidamente

de

um

pouco

de

vodca.
terça-feira, agosto 12, 2008
De Mudança
Vez em quando a vida me dá uma puxada de tapete, só pra mostrar que o mundo não é cor-de-rosa. Eu sei que não é, tenho poucas ilusões, mas sou dada a alimentar paixões insaciáveis. E sofro. E gozo. E acho que estou viva porque sinto, alternando prazer e dor.

Aí vem a vida, aquela, da pia entulhada de pratos, a vida real, e mostra que não é bem assim. Que não existem paixões insaciáveis. E que a dor que eu cultivava como prova de minha existência pode me machucar. Eu protesto, mas me curvo à realidade inexorável, junto os trapinhos do meu desejo e me mudo dali para o mundo dos racionais, cinzento e tristonho.
domingo, agosto 10, 2008
Egolatria
Tenho percebido por aí um sutil movimento de crítica aos blogs ditos 'ególatras'. Esses mesmos, nos quais incluo este aqui, que as pessoas criam para falar de suas vidinhas, amorzinhos e cotidiano que, embora nem sejam tão especiais assim, merecem algumas ou muitas linhas frequentemente. Mas então, foi assim que eu conheci esse veículo e por isso passei a utilizá-lo. O blog corresponde ao que era o meu diário na infância/adolescência. E não vejo nada de errado nisso.

Eu discordo veementemente da idéia de que um blog precisa ter uma utilidade, seja ela esportiva, científica, jornalística ou algo que o valha. Não. Cercear a liberdade de quem quer escrever sobre a própria vida é simplesmente esdrúxulo. Por uma razão muito simples, lê quem quer. Os blogs são escape, são meios para organizar idéias, servem para registrar fases. São pequenas biografias de alguns milhões de anônimos. Fundamentalmente, um espaço de liberdade.

Pena que tem sempre alguém incomodado com a idéia de liberdade...
quarta-feira, agosto 06, 2008
O cúmulo da indiferença
Aquele dia foi mesmo triste. Apatia, insônia e melancolia.

E eu estava tão indiferente e sem ânimo, que não levantei da cama nem pra ver o CQC.
terça-feira, agosto 05, 2008
Vício
Você sabe que ainda não está completamente curada do vício de internet quando...




em reunião de trabalho para discutir um plano de comunicação, você propõe criar um blog e um perfil no Orkut para o contrato de gestão da instituição.

:O
segunda-feira, agosto 04, 2008
Notinha zodiacal
é mesmo uma péssima idéia provocar ciúmes numa ariana.

han-han.
Uma frase solta
Brincadeira recomendada pela Caminhante, eu topei.

É simples: consiste em pegar o livro mais próximo e transcrever a quinta frase da página 61. E só. :) Sigo a linha Caminhante e recomendo a brincadeira para quem quiser brincar...

A minha frase:

Os antibióticos custam mais do que as compressas frias, que eram tudo que os médicos de antigamente possuíam para combater a pneumonia.

Pode parecer retirada de algum livro da época em que eu era biomédica. Mas não, o livro se chama Introdução à Administração, de um tal Peter F. Drucker. É da época em que eu estava concurseira, em Recife, e acabou largado por aqui, servindo de apoio para as minhas caixas de som. :) Perdeu o status de livro e passou a ser um reles suporte depois que eu desisti [temporariamente] de insistir em novos concursos.

E a frase, hein? Bem, creio que o autor falava de inovação. Sim, os antibióticos, não há melhor exemplo de inovação. Para mim, a melhor descoberta da humanidade. E a pior também. Se, por um lado, evitaram muitas mortes, antes banais, depois de mal usados pela humanidade, passaram a representar um perigo ainda maior do que as doenças que curavam.

Foi assim com os antibióticos, tem sido assim ao longo do tempo: as grandes descobertas deturpadas pelo bicho homem. Até a Teoria da Evolução, vejam bem, o meu querido e heróico Darwin, foi utilizada em determinados momentos para fins obscuros.

Eu, hein? Me leva, seu moço do disco voador!
Toque de fadas
Depois de muitos desenganos, maçãs e sapos engolidos pela vida, obviamente contra a vontade, a princesa, já cansada de tanta desventura, faz sua caminhada diária para manter a forma, a única coisa que ela pensa lhe restar, além de uma boa dose de humor ácido.

É quando Ele aparece. A princesa não acredita. Ele, o tão sonhado Príncipe! Ela lembra que não atualizou a sua consulta ao oftalmologista no ano passado e conclui se tratar de um engano, produto de sua miopia cultivada há décadas.

Mas não. O Príncipe vem caminhando, em passos firmes e viris, ao seu encontro. A princesa desacelera gradualmente o passo, como que prevendo o encontro e como se quisesse desmaiar de tanta emoção. Num lance rápido, ela imagina que o Príncipe pode detestar faniquitos e detém o desmaio, que não era tão autêntico assim.

O Príncipe finalmente chega perto dela - os segundos podem demorar dias num conto de fadas - e nada diz. Apenas estende a mão, num gesto convidativo e irrecusável. Assim, sem palavras. A princesa, sem querer quebrar o clima, nada diz e apenas segura a mão Daquele por quem tanto esperou.

E saem assim, caminhando de mãos dadas, como num sonho, como num filme. Vez em quando olhos nos olhos, vez em quando carícia nas mãos. A princesa sorri aliviada e olha para aquele Homem tão desejado com um ar de felicidade incrédula.

Um toque. Outro. O Príncipe pede licença e se afasta uns cinco metros para atender o celular. Príncipes são sempre bem-educados para atender celulares. O Príncipe conversa, compenetrado, com o maldito aparelhinho no ouvido.

A princesa percebe a distância, dá meia-volta e segue sozinha. Imaginou que deveria ser um caso mal-resolvido com alguma fadinha, e acertou. O Príncipe nem se deu ao trabalho de ir buscá-la e marcou uma nova discussão de relação com a fadinha mais tarde.

Príncipes não deveriam usar celular.
domingo, agosto 03, 2008
Amy
Falam tanto da vida dela, das drogas, das brigas com o namorado, dos escândalos, que eu ainda não tinha parado para ouvir somente a música de Amy Winehouse.

Acabei ouvindo por acaso, numa loja de discos.
















Com algum atraso, descobri que a voz e a música de Amy são muito mais que os escândalos alardeados pela mídia fofoqueira.
A ética da traição
Ontem me questionaram a conduta ética de alguém que se envolve com uma pessoa casada, sabendo que ela é casada. Disseram que, nesse tipo de situação e havendo o desejo de aproximação, o melhor é pedir para a pessoa decidir e, só então, investir no ex-comprometido. Se isso não acontece, é sinal de desrespeito pela terceira pessoa e até indicativo de má índole do "traidor".

Traição, infidelidade, perfídia. Fizeram-nos acreditar que o desejo pode seguir regras. Que o tesão conhece estados civis e formalidades do mundo monogâmico. Que a vontade pode esperar.

Estar casado com alguém deveria ser um estado espontâneo e pleno de certeza. Dedicar-se a somente uma pessoa deveria ser escolha. Estar junto com o outro para multiplicar alegria, e não para manter o tédio.

Mas não, o mundo das regras e diretrizes tratou de normatizar a vontade de se dedicar ao outro e tornou a fidelidade um dever civil. A quebra desse procedimento é vista como um desvio - viver de mentiras e aparências, não. Falta de carinho não é deslealdade, infidelidade sim.

Nesse mundo cheio de caixinhas e regras, cobiçar o parceiro do próximo é pecado. Mesmo que o próximo já esteja bem distante do tal parceiro, afastados pela vida, pelo tédio e pela falta de interesse.

A posse fala mais alto: a mulher dele, o marido dela. Os filhos deles. O casamento deles, intocável, protegido pelo casulo que é o apartamento deles, cheio de coisinhas que eles compraram juntos. Tanta gente/coisa de tanta gente. Difícil desfazer esses nós.

Mas aí vem o tesão, a cegueira, a paixão e subvertem toda essa ordem. Vêm para dizer que não há pessoa que pertença a outra, porque há uma chama que arde em cada um e que nem o mais perfeito dos contratos é capaz de apagar.

Não há uma ética do desejo, e felizes daqueles que conseguem alimentar essa chama e transgredir as regras do mundo monogâmico. Eu não vejo nenhuma virtude no respeito às regras do casamento, eu não vejo nenhuma vantagem em se manter monogâmico somente para demonstrar um bom caráter.

Não há melhor prova de boa índole que ser verdadeiro consigo mesmo. E depois com o outro, que deverá entender e respeitar a liberdade plena do parceiro, que implica até mesmo na possibilidade de perdê-lo. Inclusive para outro/a.

E as pessoas continuam prometendo ser fiéis, na alegria e na tristeza, blá blá blá... e fidelidade continua sendo confundida com monogamia. E o amor envelhece, e as pessoas suprimem seus desejos, e o mundo continua vivendo de aparências. E ninguém mais joga nada pro alto, afinal somos todos adultos responsáveis. Mas dormem e sonham que estão se entregando para outras pessoas, muitas, as mais impensáveis. E acordam fingindo que não lembram do sonho.
sábado, agosto 02, 2008
Voltando a malhar...
... eu me pergunto:

será que aquela bunda enorme da professora é, assim, uma espécie de imagem-objetivo para as alunas?
sexta-feira, agosto 01, 2008
Separando II
Separação é um momento delicado. Dramático. Imprevisível.

As estratégias não são poucas. Tem os rompimentos bruscos, passionais e irreversíveis. E também os bruscos, passionais e reversíveis até demais, são aqueles casais que a gente nunca sabe se está na fase do 'casa' ou do 'separa'.

Mas acredito que a maioria das separações decorre de uma morte lenta e cruel do relacionamento. Tão lenta que às vezes as pessoas se tornam reciprocamente insuportáveis. É difícil saber a hora certa de ir embora. A maior parte das pessoas já vai tarde.

Tem sido difícil pra mim identificar o que morreu e o que continua vivo no meu relacionamento. Ou talvez uma parte de mim queira ficar e a outra, voar. Eu tenho medo de precipitar as coisas, praticar a eutanásia num relacionamento ainda passível de sobrevivência e não conseguir ressuscitá-lo depois. E tenho medo de deixar passar a hora certa do rompimento saudável, racional e honesto, e deixar o relacionamento apodrecer entre palavras e cenas amargas.

Separação exige desprendimento, autonomia e muita coragem. Porque é tão mais fácil ficar, especialmente quando o respeito e carinho pelo outro ainda não se perderam, meu caso. Mas aí a gente olha pela janela e vê um mundo enorme, um horizonte distante, e acha que se correr um pouquinho, dá pra alcançar. E vem a preguiça de correr e a vontade de ficar quietinha num canto, recebendo as dádivas e o tédio do amor tranquilo.

Separação é rearrumação de valores, resgate de medos e necessidade de tirar os pés do chão. Tem que pensar bem, mas não dá pra pensar muito. Se há dúvidas quanto à continuidade do relacionamento, ignorá-las pode ser um erro fatal. É melhor jurar estar juntos somente até que a incerteza nos separe.
Toca Raul!
A única coisa possível de encontrar em qualquer localidade deste país, além de um quiosque Contém 1g num shopping, é um cover de Raul Seixas.

Eu já encontrei o meu em Brasília. Ainda não vi o show, mas sei que é incrivelmente parecido, fisicamente. Pra quem tem Orkut, Tika Seixas e Dentadura Postiça.
Ócio não criativo
Tem um ser vagando pelos cômodos de minha casa.

Veste calça de moletom duas vezes maior que o seu número, camisa velha de frio e anda sempre com os dedos dos pés à mostra, com os mesmos chinelões. Tem os cabelos desgrenhados e usa óculos fundo-de-garrafa. Fala pouco, quase nada. Só se dá ao trabalho de balbuciar alguns sons ininteligíveis para comunicar alguma coisa a uma das gatas. Com um ar de indiferença ou desorientação, vai sempre da cama para o computador, sem nenhum objetivo aparente. Liga a TV, mas não assiste. Abre o jornal, mas nem lê. Parece esquecido pelo tempo, mas não parece precisar de ajuda.

Esse ser sou eu, no meu último dias de férias.