Depois de muitos desenganos, maçãs e sapos engolidos pela vida, obviamente contra a vontade, a princesa, já cansada de tanta desventura, faz sua caminhada diária para manter a forma, a única coisa que ela pensa lhe restar, além de uma boa dose de humor ácido.
É quando Ele aparece. A princesa não acredita. Ele, o tão sonhado Príncipe! Ela lembra que não atualizou a sua consulta ao oftalmologista no ano passado e conclui se tratar de um engano, produto de sua miopia cultivada há décadas.
Mas não. O Príncipe vem caminhando, em passos firmes e viris, ao seu encontro. A princesa desacelera gradualmente o passo, como que prevendo o encontro e como se quisesse desmaiar de tanta emoção. Num lance rápido, ela imagina que o Príncipe pode detestar faniquitos e detém o desmaio, que não era tão autêntico assim.
O Príncipe finalmente chega perto dela - os segundos podem demorar dias num conto de fadas - e nada diz. Apenas estende a mão, num gesto convidativo e irrecusável. Assim, sem palavras. A princesa, sem querer quebrar o clima, nada diz e apenas segura a mão Daquele por quem tanto esperou.
E saem assim, caminhando de mãos dadas, como num sonho, como num filme. Vez em quando olhos nos olhos, vez em quando carícia nas mãos. A princesa sorri aliviada e olha para aquele Homem tão desejado com um ar de felicidade incrédula.
Um toque. Outro. O Príncipe pede licença e se afasta uns cinco metros para atender o celular. Príncipes são sempre bem-educados para atender celulares. O Príncipe conversa, compenetrado, com o maldito aparelhinho no ouvido.
A princesa percebe a distância, dá meia-volta e segue sozinha. Imaginou que deveria ser um caso mal-resolvido com alguma fadinha, e acertou. O Príncipe nem se deu ao trabalho de ir buscá-la e marcou uma nova discussão de relação com a fadinha mais tarde.
Príncipes não deveriam usar celular.
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