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Estado de Coisas

domingo, novembro 30, 2008
Depois
Depois da cirurgia de miopia, e já quase completamente recuperada do embaçamento inicial, começo a achar estranho o mundo através de uma visão normal. Muita gente, muitos lados, muitas letras. Muitos avisos, anúncios, sinais, placas: estão por toda a parte e eu nem tinha percebido. Parece um mundo que eu desconhecia.

E ando chorando por tudo. Músicas, lembranças, frases, situações. Mas isso eu ainda não sei é efeito da cirurgia.
sábado, novembro 29, 2008
A hora
Eu não planejava um Doutorado. Mas sonhava com isso há alguns anos.

Chegou. Sem que eu planejasse.

Foi na bancada de trabalho, a colega do lado me enviou um link por e-mail: era o edital.

Escreve projeto, pede ajuda aos universitários, provas e depois a entrevista. Medo e êxtase a cada etapa vencida.

O resultado: um surpreendente segundo lugar. Na UnB. Numa área onde sou quase uma estranha no ninho.

Eu não planejei, mas estou nas nuvens.
quinta-feira, novembro 27, 2008
Por fim
Ir a Fortaleza e dividir o quarto de hotel com uma colega antipática e complicada é como ir ao Carnaval de Recife acompanhada por uma freira.
domingo, novembro 23, 2008
Hoje
Estar em Fortaleza num domingo, em pleno verão e depois de uma cirurgia de miopia - proibida de tomar sol -, é como estar numa suruba sofrendo de frigidez/impotência.
Ou como tomar banho de mar usando um macacão impermeável.
Ou como participar de uma farra gastronômica estando de dieta.
Ou como ir a Roma e não ver o Papa.

=/
sábado, novembro 22, 2008
Amanhã
Ir até Fortaleza a trabalho é como participar de uma suruba usando cinto de castidade.
sexta-feira, novembro 21, 2008
Aquela noite em Curitiba
Esta semana, eu lembrei casualmente de uma história que aconteceu comigo, lá pelos idos de 2005.

Foi na cidade que eu amo, Curitiba. Eu estava a trabalho e acabei ficando hospedada na casa do amigo da minha colega de trabalho (!), que fazia questão de nossa presença, não aceitaria um não e coisas assim. Verdade que era apenas por causa de minha colega, velha conhecida dele, já que eu era uma ilustre desconhecida. Mas aceitei pela comodidade de ficar junto com ela e pela gentileza com que ele fez o pedido.

E assim foi durante os três dias que passamos lá: pura gentileza. Ele era bonito, divertido, requintado e sabia ser um bom anfitrião, daqueles que tratam o hóspede com carinho e sem cerimônia. Apesar de todas essas qualidades, juro que nenhum pensamento malévolo me passou. Não que ele não fosse visivelmente interessante, eu é que estava tensa por se tratar de uma das primeiras viagens no então novo trabalho.

No último dia antes da volta para Brasília, fomos a um boteco delicioso no centro, o Casa Velha. No final, poucos se aventuraram a uma esticadinha para dançar. Na verdade, apenas eu e ele. E assim foi, fomos a um pub e dançamos até a noite terminar. Depois disso, em vez de cansado, nos sentíamos energizados o suficiente para uma parada na rua 24 horas, para um longo café, longa conversa e uma longa espiada nas figuras que andam pela noite curitibana.

A noite foi linda, especial, cheia de um charme inesgotável. Chegamos em casa com o sol nascendo e com a sensação de que a noite não deveria terminar. Tenho certeza que ambos sentimos isso. Em vez de me atirar na cama e terminar o programa com um bom sexo, ele me abraçou ternamente, agradeceu a noite e nos beijamos de forma doce, ali no corredor do apartamento dele.

Nunca mais nos vimos, por uma série de razões que não cabem aqui. Mas penso que, fosse previsível, seria mais uma noite de sexo casual. Da forma como aconteceu, virou uma lembrança bonita, afetuosa e repleta de um brilho que parece não diminuir. Foi uma noite daquelas.
domingo, novembro 16, 2008
Timbu X Raposa
















Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça.
O único problema desse jogo foi que eu não estava lá.
Foda-se a arbitragem ruim, os patrocínios milionários e a arrogância dos primos ricos do Brasileirão. Futebol é garra.

Náutico acima de tudo! \o/
Espantando males
Eu sempre fui reservada e cuidadosa com questões relacionadas à convivência em condomínio. Sei que os limites são muitos e acredito que o rigoroso cumprimento de deveres é um passo indispensável para a convivência civilizada.

Apesar disso tudo, a idéia de que a minha vizinha de cima, que bate em criança e grita o dia inteiro, vai me ouvir cantando no meu novíssimo DVD com função videokê - sonho antigo - me deixa mórbida e estranhamente feliz.



sexta-feira, novembro 14, 2008
Pós
Pingo 1, 2, 3, 4 colírios. Quinze minutos de intervalo entre um e outro. Vou pra net. Leio e-mails de trabalho. Que raiva dessa minha mania de não desligar do trabalho! Mas me controlo e não respondo. Em compensação, atualizei o álbum de fotos no Orkut, mas não criei nenhuma nova comunidade.

Pingo 1, 2, 3, 4 colírios. Volto pra cama. Palavras cruzadas Letrão, as letrinhas miúdas ainda estão turvas. Livro escrito por Salomão (Bíblia). Eu só descobri que é o de Provérbios quando a palavra já estava quase completa: P R V R B I O S. Achava que eram ditos populares, apenas.

Pingo 1, 2, 3, 4 colírios. Ligo a TV. Mulheres Apaixonadas. Adoro o Giulia Gam como Heloísa. Identificação total. Quando estou realmente apaixonada, viro Heloísa. Sem MADA.

Pingo 1, 2, 3, 4 colírios e vou dormir.

Assim tem sido o meu pós-operatório da cirurgia refrativa.
quarta-feira, novembro 12, 2008
Por trás dessa lente...
Deixei de ser míope desde ontem. Os 10 graus de miopia no olho esquerdo e 8,50 no olho direito ficaram na lâmina de cirurgia do médico que parece robô.

O mundo ainda parece estranho sem a correção que usei durante 30 anos. Não foi de todo mal. Aprender a conviver e superar a minha limitação de visão me fez bem. Usando óculos, eu era a primeira da fila na escola, o que me fez mais concentrada. Usando lentes, eu venci a timidez e deixei de me sentir patinho feio. Enfim, quase saudade de minha dependência de óculos e lentes.

E apenas quase, pois estou radiante com a tecnologia que liberta. \o/
sexta-feira, novembro 07, 2008
Alucinação
Hoje à noite, voltando da academia, por um momento tive a nítida impressão de ter visto um boneco gigante desfilando numa entrequadra comercial aqui de Brasília.




















Preciso parar imediatamente de beber tanto chá mate na hora do almoço!
quarta-feira, novembro 05, 2008
Na Real
Eu o encontrei não exatamente por acaso, mas fiz parecer que era. Fui ao lugar onde eu sabia que poderia encontrá-lo, passei fingindo que não o vi, mas ele estava lá e me viu. Recebeu-me de forma calorosa e afetuosa, me fez deitar a cabeça sobre o seu colo, brincou comigo, sorriu e me olhou bem de perto. Não lembro quanto tempo passamos ali, embaixo do bloco, eu deitada, nós conversando, o filho dele dormindo num carrinho, a mulher por chegar do trabalho. Até os meus pais passaram por ali e, vendo a cena, me criticaram. Eu estava tão feliz que tudo o mais parecia detalhe sem a menor importância. Ele me prometeu que até o próximo ano estaríamos juntos. Eu não acreditei, mas fiquei feliz como se aquilo fosse verdade.

Só quando eu acordei percebi que, no sonho, eu usava o mesmo vestido com que eu dormia, meu pijamão marrom. Quanta deselegância.
domingo, novembro 02, 2008
Cigarras II
Quem leu o post anterior sobre o tema, sabe o que acontece quando as cigarras entram aqui em casa. Território inimigo, há quatro gatas prontas para "brincar". Interessante é que as gatas não trucidam o inseto de imediato, nada disso. Torturam, brincam, jogam de um lado para o outro, empurram de uma pata para a outra, exibem o prêmio para as outras. Gatas são ardilosas.

Eu sempre assistia a tudo indiferente, afinal, quem sou eu para interferir nas leis do mundo selvagem?! Até que uma cigarra entrou, foi capturada pelas gatas e, diferentemente das vítimas que a antecederam, aprontou um escândalo. Eu juro, a cigarra gritava por socorro. O canto delas é algo repetido e enfadonho, um si si si bem parecido com a Simone cantando 'cigarra'. Não era isso. Ela gritava de forma intermitente, um grito de dor, de desespero, de me acudam.

Eu, que sou pouco afeita ao canto das cigarras, fiquei comovida. Até me senti culpada. E pedi que o marido retirasse gentilmente a cigarra da boca (e do domínio) das gatas. E foi o que ele fez. E a bicha sobreviveu. Até saiu voando. Eu fiquei em dúvida sobre se tinha tomado a atitude correta. Mas aquele canto longo, quase um gemido, cheio de dor, não me deixou outra opção. E olha que eu odeio cigarras.

Quando eu digo que elas dominarão o mundo, ninguém acredita.

Cigarra - Canto da Natureza
Escalada imobiliária
Comecei novamente a minha odisséia em busca do lugar perfeito para morar em Brasília. Aqui é assim, não há meio-termo. Pode-se morar no Plano Piloto, onde qualquer lugar coberto e fechado por quatro paredes custa uma pequena fortuna. Em compensação, não há muito trânsito, tudo é pertíssimo e os melhores botecos estão à mão. Pode-se morar em Águas Claras, em apartamentos modernosos e cheios de áreas de lazer e outros frufrus, pagando um preço razoável e gastando algumas horas por dia no deslocamento até o mundo real, dentro de um trânsito infernal. Tem também a ala B, dos que pagam pouco e vivem confortavelmente mal: é o entorno do Plano. E eu cansei de todas as opções que conheci até agora. Já morei de todos os jeitos possíveis de morar aqui na Capital: pousada, quarto alugado, quitinete, apartamento em quadra comercial, edifício antigo, edifício não tão antigo assim, Super Quadra. Agora, penso em seguir o caminho de alguns loucos lúcidos do meu trabalho seguiram: vou procurar uma chácara para morar no Reino de Tão Tão Distante e levar uma vida zen, longe da disputa imobiliária da Capital.

Quem sabe, enfim, eu viro hippie, como sempre sonhei...