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Estado de Coisas

segunda-feira, outubro 02, 2006
A ilusão do anonimato
Escrevo neste blog - que mudou de cara, endereço e título, mas não seu propósito - há cerca de três anos. Durante muito tempo, consegui circular incógnita por aqui. No início, eram basicamente colagens de textos que gosto. Depois vieram pequenas anotações sobre a minha rotina. Então, chegaram os pequenos e despretensiosos contos, relatos sofridos de grandes paixões, confissões sobre desejos e sentimentos secretos.

Nesse ponto, veio a encruzilhada em que me encontro até hoje. À medida em que o tempo passava, o blog foi agregando poucos, mas valiosos leitores. A maioria dos que comentam são conhecidos, real ou virtualmente. Ao mesmo tempo, o número de acessos foi crescendo, basicamente devido ao infame mecanismo de busca do Google, que traz as pessoas até aqui de um modo totalmente esquizofrênico. Se isso, por um lado, acabou trazendo pessoas que se interessaram pelos textos, por outro me expôs mais às incontroláveis buscas e deixou a possibilidade de anonimato ainda mais frágil do que já é, naturalmente.

O ponto de corte veio com o acesso de pessoas muuuito próximas para quem eu não havia revelado o endereço. Para ser mais direta, o marido, quando ainda era namorado. Uma reviravolta. Momento de reflexão. Duelos entre individualidade e lealdade, privacidade e companheirismo. Até onde eu poderia "esconder" o blog do meu tão caro companheiro? Ou, até onde eu poderia resguardar emoções quase sempre indecifráveis, que eu pretendia apenas expressar e, às vezes, esquecer?

O endereço mudou, mas o dilema permanece. Desde então, a minha auto-censura costuma funcionar imperceptivelmente. Criei um outro blog, realmente secreto, mas não colou. Além de me sentir paranóica, refleti que teria o mesmo inevitável destino deste aqui: um semi-anonimato que me angustia. Vontade de publicar textos impublicáveis. Sem delírios de dupla personalidade, mas com o conforto de ser uma incógnita no universo da Rede. E vontade de partilhar alguns dos meus (mal) escritos com quem me é tão querido. Mas não tudo, nem todos.

Pensei em liquidar este e iniciar um outro, do nada. Pensei em, simplesmente, recomeçar sem travas.

Continuo pensando.

Sou jornalista e ainda que numa outra dimensão essa questão que te colocas também nós a colocamos. Até onde deve ou não deve ir a auto-censura? Honestamente não acho que deva sequer equacionada. Quando escreves, crias e quando crias estás efectivamente numa outra dimensão. Penso que o facto de seres casada nada deve ter a ver com o que publicas. Se ele te ama verdadeiramente entenderá a necessidade de te recriares e de criares.
Podes, por exemplo moderar os comentários.
Gostei muito da tua reflexão.
Beijo  

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Eu tbm me debato. O meu semi-anonimato não vem do fato de esconder do meu marido e sim de revelar o endereço para poucos. Os que freqüentam meu blog são amigos virtuais, em sua grande maioria; cada vez que revelo o endereço a um amigo real, sinto como se perdesse o anonimato. Coisas que no meu blog parecem puras reflexões podem ser bem claras para quem convive comigo.

Eu acho que um certo nível de auto-censura sempre existe. Acho que única maneira de não ter seria escrever um blog pra ninguém, lançar as idéias na rede e nunca ler comentário nenhum - porque nos comentários nascem afinidades e o ciclo recomeça...

Caminhante  

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É difícil. Foi por isso que o meu primeiro blog foi sumariamente deletado. Acho que é o preço que se paga por ter um blog com textos interessante. O que, definitivamente, é o teu amiga. Essa dúvida da tênue linha entre um blog pessoal (tipo diário) e um mais, digamos, literário é a primeira coisa que aparece quando há fusão entre as duas coisas e pessoas conhecidas começam a ler. Aí você precisa explicar que isso não era bem isso, mas sim aquilo. Que não é tão sério assim, nem assado. Sabe uma coisa que pode facilitar tudo? É esclarecer que é meio ficção, meio relato. Porque por outro lado ter um blog secreto que ninguém lê perde a graça. A gente espera um feedback, né não? O que a Caminhante escreveu. Qualquer que seja sua decisão eu respeitarei mas ficarei super triste se você acabar com o Rota de Fuga. Beijão.  

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Conforme dito em tempo real, concordo que a completa ausência de comentários nos seja desanimadora, Mas veja pelo lado do dedo-duro contador de visitas; tenho baseado-me nele, para saber que não estou escrevendo às moscas.

Vc sumiu de lá (de onde conversávamos) de repente – talvez, porque o momento havia se tornado indiscreto? – mas confesso-te: O começo de meu blog oculto foi um fracasso absoluto de audiência. Sabia disso por conta do contador e, posteriormente, pela enquete ali colocada.

No entanto, as visitas foram aumentando... começaram a responder a enquete e senti que havia mesmo pessoas vendo e lendo o blog. Comemorei o primeiro milésimo de visitas, mas ainda a lamentar a ausência feminina (era 100% de presença masculina!)... só que logo vieram as visitas femininas... e assim, meu blog tornou-se razoavelmente visitado.

A bem da verdade, ele havia sido criado mesmo para não ser visto por ninguém, mas... acho que todos bem sabem, a aparente situação de solidão não é suportável por muito tempo. E foi bom que ele passou a ser visitado...

Não tenho lá muitas coisas inconfessáveis assim, entretanto... fico inegavelmente feliz ao ver que outras pessoas compartilham e meus gostos. Do contrário, não retornariam, certo?

E paro nesta latinha. Já foi cerveja demais, por hoje.
: )  

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tava pensando em comentar umas coisas, mas tem ateh comentário de jornalistas aqui... ñ estou á altura. deixa p lah. vou me limitar a dizer q seu blog eh ótimo (oh, q original da minha parte). axei seu blog pelo orkut. te vejo por aih... ateh a próxima.  

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Pensa e repensa sim, amiga, mas nunca pense em retirar do ar o seu blog, viu?  

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