Ele é meu, eu repito para mim mesma.
Sei que não é de fato: estamos todos livres, leves, soltos e indomáveis. Basta um pequeno desencontro, ou um descuido, uma palavra áspera, um outro encanto imprevisto, e lá se vai o outro, nos deixando boquiabertos e impotentes, com o nosso termo de propriedade (inválido) nas mãos.
Se bem que a vida não teria graça se não tivesse esse eterno suspense de não-ser, não-estar, não-ter. Essa insegurança, a incerteza, o medo de perder, - às vezes acentuado pelas tantas ou poucas rejeições que costumamos amealhar durante a vida - estranhamente faz a vida melhor.
Porque a sensação de propriedade provisória, se causa uma certa angústia, também enche todos os espaços vazios de uma alegria ingênua e que parece interminável. Se por um lado, a sensação de posse pode aprisionar, por outro, ensina a cuidar.
Não que ele tenha que ser meu.
Não que eu o tenha incondicionalmente.
Não que eu não o possa perder, por um desses acasos imprevisíveis.
Só sei que, em qualquer dos casos, ele é meu.
Eu abro a porta,
ele entra.
Eu fecho a porta.
Daqui ele não sai mais.