Prometo que vou [tentar] parar com esse desejo compulsivo de postar links para outros sites. Mas o blog do jonalista pernambucano
Xico Sá é das melhores coisas que li na internet nos últimos 32 anos. Primoroso. Pornografia, escracho, fragmentos, poemas e idéias. Impossível resistir à tentação de colar um de seus textos aqui:
DO CATECISMO DE DEVOÇÕES, INTIMIDADES & PORNOGRAFIAS
Existem várias maneiras de arruinar aquela grande noite. A noite dos sonhos, a noite do meu bem, como canta Dolores Duran. Uma delas, além da ansiedade que estala no corpo feito aqueles taxímetros dos fuscas de praça das antigas, é tentar reinventar a roda, digo, o sexo, como se fosse possível recriar o Kama Sutra.
Ao contrário do que supunha a lindeza do lirismo de Manuel Bandeira, as almas até podem se entender desde o primeiro flerte, os corpos não.
Não tente reinventar o Kama Sutra nas primeiras noites... A dramaturgia da cama não é para amadores. O sexo é uma coisa tão séria que só deveria ser feito pelos devassos, pelos afilhados do Marquês de Sade e pela madre superiora. Não é qualquer donzelo que resiste às firulas da alcova, a ginástica das pernas, à coreografia dos braços e ao bate-coxa propriamente dito.
A verdadeira e religiosa pornografia é a intimidade. Ai sim, quando atingimos esse nirvana, Bandeira volta a ter razão: podemos até dispensar as almas, pois os corpos já se entendem. Ai passa a valer o verso do pernambucano: “Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma”.
(Xico Sá, 10/08/2005)