Foram mais de cinco horas de caminhada. No início, terreno plano, uma subida para um mirante, cachoeiras e mais cachoeiras, a vegetação, as flores do cerrado, a transição entre diferentes matas. Beleza. Meus problemas começaram apenas quando o guia explicou que iria começar o trecho moderado-difícil da trilha.
As belezas da Chapada Imperial não são fáceis. Fazem charminho, escondem-se, dizem 'talvez'. É como se nos olhassem de lado, provocantes, e dissessem: 'vem me pegar'. E lá fomos, mochilas nas costas, entre pedras, matos e formiranhas [uma espécie de formiga que parece aranha, por isso eu lhe dei esse nome].
Ou eu sou urbana demais, ou sou insensível a ponto de não entender o prazer que há em superar os obstáculos da vida selvagem. Às vezes eu me sentia uma Tarzan ultrapassada, segurando em cipós e galhos para passar por pedras escorregadias, às vezes eu me sentia vencida pela natureza, descendo sentada - ou melhor, de bunda - pedras que têm inclinação quase vertical.
Durante o árduo caminho, eu via miragens constantes - asfalto no lugar das pedras minúsculas à beira do rio; elevadores no lugar das subidas íngremes; corrimões por toda a escadaria de pedras soltas e galhos quebradiços; o mar, a areia branquinha e plana e eu sentada tomando cerveja, no lugar daquele sofrimento voluntário.
Vai ver é isso. Fazer trilhas é uma forma de expiação, quase uma purificação total. Por isso o grupo estava tão feliz. Só deveriam ter me avisado antes. Aliás, quanto ao grupo, acho que a minha tchurma era outra. O grupo que veio depois de nós resolveu voltar na metade da trilha. Sim, esses eram meus pares. No final, eu estava tão cansada, que nem quis ver a Cachoeira da Rainha. A beleza não precisa ser tão difícil, na minha estafada opinião. Sem contar que a natureza às vezes é indócil. Os casos de morte e acidentes em cachoeiras e durante a prática dos chamados 'esportes de aventura', contados pelo guia, me deixaram ressabiada.
Na volta, almoço na fazenda, um copinho de cachaça, duas cervejas e fiquei um tempo deitada na rede, me refazendo, e olhando para o mico-leão dourado louco que vive no criadouro conservacionista de lá. Me diverti vendo como ele se fingia de meiguinho para pegar a mão das pessoas e em seguida, criada a intimidade suficiente, dar uma boa botada. "Huahuahauhuahua, eu faria o mesmo" - pensei, ainda levemente desequilibrada.
Claro que fiz várias 'sugestões' [nome delicado para reclamações] ao dono do lugar. Sobre a necessidade de explanação prévia sobre o grau de dificuldade, a elaboração de roteiros pré-definidos, de acordo com esses graus e os riscos à saúde, que precisam ser avaliados antes e individualmente. Escrevi tudo no livro de visitas, a pedido dele, e ainda ganhei uma pasta deliciosa de manga, para compensar os meus contratempos. Definitivamente, eu me saio melhor em chão firme.
_____________________
_____________________
_____________________