Há dias em que a gente se sente muito só. Parece que, no mundo inteiro, entre os bilhões de seres que vagam, não há um só ombro amigo para se recostar. A solidão de nem ter a quem procurar. A solidão de pensar livremente, sem ninguém para partilhar ou discordar. Uma solidão que poderia ser boa, mas que acaba virando uma quase tristeza.
Tinha tudo pra dar certo. Algumas coisas são assim. O meu Carnaval parecia assim. A probabilidade de dar errado era mínima. Eu estava empolgada, alegre, cheia de programação e resolvida. Afinal, era Carnaval, a minha festa.
Foi então que, lá pelo terceiro dia, sábado de Galo da Madrugada, uma intoxicação alimentar me trouxe uma crise alérgica, urticária, que acabou com a minha festa mais cedo. Placas vermelhas por todo o corpo e uma coceira insuportável - especialmente nos pés e mãos - me fizeram parar em casa todos os outros dias.
E eu fiquei ali, quietinha, impotente. Depois, veio a "cura", com duas injeções que me deram um tombo que me fez dormir durante dois dias, com pequenos intervalos para as refeições. E nada de frevo, shows ou acontecimentos. Meu Carnaval nem chegou ao fim do Galo.
Creio que a vida quis dizer que, às vezes, planejamento ou condições ideais bastam para realizar determinados projetos: às vezes é preciso aceitar, embora sem compreender, a tal da imprevisibilidade.
Nunca foi muito difícil pra mim gostar (assumidamente) de música brega. Cresci ouvindo Reginaldo Rossi e Chico Buarque, ao mesmo tempo. Assim, a separação entre músicas que gosto e as que não gosto sempre me pareceu muito mais clara que qualquer outra.
Em Recife, o brega esteve sempre muito presente, desde a década de 70. Há alguns anos, as bandas de brega, ou tecnobrega, invadiram a TV, as rádios e grandes festas nos subúrbios da cidade. Para horror dos puristas, o ritmo se mantém com força total.
Eu adoro, por diferentes motivos. Algumas músicas expressam sentimentos universais de uma forma desconcertantemente verdadeira. Outras são meio trash, e trash pra mim é aquilo que, de tão ruim, é bom! A música abaixo se enquadra nos dois motivos e é o hit do momento em Recife.
Embarco para Recife na quarta-feira. Além do Carnaval, é claro, para me reabastecer com CDs repletos dos bregas do momento. E foda-se o "bom gosto." =]
Eu havia escrito esse pequeno texto abaixo para descrever uma comunidade que criei no Orkut, mas fracassou. O nome era personal sleeper. É que eu sonho com esse profissional, um homem que apoiará minhas atividades pré-sono e que me dará todo o suporte para dormir tranquilamente, sem perspectiva de sexo, nem compromissos para o dia seguinte.
Você não quer um namorado, um companheiro ou marido. Você adora ir pra balada com as amigas, mas detesta dormir sozinha. Você quer liberdade em tempo integral, exceto à noite, na cama, quando precisa conversar. A cama fica sempre muito fria quando não há mais ninguém pra dormir. Você é igual a todas as outras mulheres, quer apenas alguém que te faça dormir.
Da noite pro dia, em apenas dois anos, eu deixei de fazer parte do grupo de pessoas que pode se dar ao luxo de reclamar do cansaço e da correria do dia-a-dia. Agora, quase não tenho tempo pra pensar. Num mesmo ano, trabalho (muito), especialização (obrigada pela instituição) e doutorado (medo²). Isso tudo depois do filho. E antes da academia, pois eu não sou gente se não fizer algum exercício físico. E ainda tem os amores mal-resolvidos, o bom boteco e os amigos que eu tento incessantemente preservar, nesta cidade de poucos amigos.
Quando eu chego, como hoje, cansada, sem disposição para mais nada e pensando em reclamar um pouco e falar coisas como "que dia!", eu lembro de um passado recente. Os dois anos de marasmo em Recife, a falta de perspectiva profissional, os 10 Kg que ganhei de pura frustração, a tristeza por me sentir invisível e deslocada. Nessa hora, eu louvo a minha nova rotina, aquela velha conhecida, em que 24 horas parecem insuficientes para um dia.
Aqui em Brasília tem um bloco pré-carnavalesco criado por pernambucanos, o Suvaco da Asa. Com orquestra de frevo, pessoas fantasiadas e sombrinhas no ar. Seria ótimo, não fosse a falta de comunicação entre as pessoas. Por que o mais característico do Carnaval de Recife talvez nem seja o frevo, mas a capacidade de interação entre as pessoas nesse período. São sorrisos, conversas, brincadeiras e afeto. Nessa época, Recife parece uma grande irmandade. É por que todos têm em comum a felicidade de estar ali. E é sincero.
Vendo aquelas pessoas desfilando assim, sisudas e intransponíveis, pensei que já não somos os mesmos depois de morar aqui. É um tipo de aculturação, é algo difícil de perceber e controlar. É o jeito Brasília de ser. E não há nada de errado nisso, é apenas diferente do que eu conheci. Mas eu juro que estarei em Recife neste Carnaval.