E tem aquela colega de trabalho que chega arfante, pra pedir alguma coisa. Chefe nova, contexto novo, muita gente tenta fazer jogo de cena. Como se jogo de cena disfarçasse incompetência ou algo assim. Que seja. Só que eu detesto desespero. Sou do tipo que não se desespera nem em situações críticas, quem dirá por causa de uma minuta de ofício com três parágrafos.
E ela, ofegante, transtornada, em pânico. Tava com a chefa numa reunião e ela pediu que ela me pedisse [pausa para respirar] o tal do ofício. "Ela tem que assinar! Está com você, não é??? Ela quer agora! Tem que imprimir!!!" Todas essas interrogações e exclamações, ditas com respiração ofegante e sobrancelhas levantadas, fizeram-me desejar intensamente jogá-la janela abaixo. Mas eu lembrei que meu cabelo tá um lixo e eu definitivamente não gostaria de aparecer nas páginas policiais assim.
Respirei fundo, olhei pra ela com expressão impassível e comecei a falar a s s i m, bem compassadamente, como um socorrista que tenta se comunicar com um moribundo durante os primeiros socorros. Coisas do tipo: 'está tudo bem, não se mexa' ou 'fique calmo, agora vamos imobilizar você.' Daí comecei a falar, com uma tranquilidade de quem sabe que as férias estão chegando, o que ela precisava levar: 't u d o - b e m, e u - t e n h o - e s s e - m a t e r i a l, q u e - é, n a - v e r d a d e - u m a - m i n u t a - d e - o f í c i o - e - n ã o - p r e c i s a - d e - a s s i n a t u r a. V o u - i m p r i m i r, s ó - u m - m i n u t o." E ela foi perdendo aquele ar de apocalipse, mais desconcertada pela minha reação anticlímax do que realmente por se acalmar.
As pessoas são livres, inclusive para showzinhos particulares em momentos banais. Só não podem esperar que os outros participem deles.
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