Uma das coisas que considero mais tristes de minha infância é o fato de que nunca tive uma festa de aniversário. Nenhuma daquelas tradicionais na minha época, com bolo e salgadinhos sobre a mesa, nem um simples 'parabéns' em família. Meus pais, com uma fila de sete crianças em escadinha, não poderiam se dar ao luxo de comemorar a nova idade de cada um deles. No dia do meu aniversário eu poderia, no máximo, faltar à escola.
Hoje, mulher feita, simplesmente não consigo comemorar meu aniversário. Este ano fiz a primeira tentativa séria de fazer algo: marquei data, avisei as amigas e fiquei de confirmar. Não confirmei. Uma gripe forte me tirou de campo e me fez novamente pensar: pra quê festa? Só teria graça naquele tempo, onde as velinhas eram tão poucas que cabiam num bolo pequeno. Não vejo graça nessa auto-comemoração de adultos.
Festa de aniversário é uma espécie de luxo, um espaço proibido, a comemoração que não mereço. Eu me sentiria ridícula, não tem jeito. Nestes tempos em que as crianças escolhem temas, locais e amiguinhos, eu me ressinto pelo que não tive em outros tempos, certamente mais difíceis. Talvez seja a mesma sensação de tristeza que senti na hiper-mega-ultra-festa de minha priminha quando eu, criança boba que era, chorei muito ao entrar num quarto e ver a Emília - que há alguns minutos alimentava nossos sonhos - tirando a maquiagem e virando mulher comum. A impossibilidade de ter ilusões.
Agora dá licença, que eu vou ali procurar um psicoterapeuta de plantão e já volto. =/
_____________________
_____________________
_____________________