Decididamente, eu estou de quarentena. Um fungo decidiu fazer morada na unha do meu polegar, que está horrivelmente feia. Pra completar, gripe, garganta inflamada e dor no corpo. Paracetamol, diclofenaco sódico, mel com limão e alho, pastilha para aliviar a faringite e mais mel com Elixir Sanativo. Fiquei surpresa ao descobrir que o Elixir Sanativo é produzido por um laboratório pernambucano. Aquilo lá virou uma espécie de elixir da longa vida para mim, eu uso para quase tudo. Mas é preocupante que a minha mania de ler rótulos e bulas tenha se agravado nos últimos tempos - passou de cuidado profissional a paranóia pura e simples. Leio e releio bulas e rótulos. Verifico datas de fabricação e validade. Observo o nome do técnico responsável e endereço do laboratório. TOC pouco é bobagem.
Mas descobri também que a automedicação é mesmo um bom negócio. Meu dedo do pé quase condenado a virar morada de bactérias passou por uma ecdise
(=linda palavra que terei poucas oportunidades de usar) e, embora tenha ficado mais feioso, é o meu velho dedo mínimo querido. Várias consultas médicas depois, resolvi seguir o receituário do meu irmão, que me indicou um daqueles antibióticos tipo
bomba nuclear. Achei até que eu fosse explodir, mas isso não aconteceu e eu ainda ganhei um dedo feioso novinho em folha.
Daí fiquei em casa mais um fim-de-semana e assisti dois filmes. Um, na MGM, não sei o título, do marido violento que se torna um psicopata e blá-blá-blá. O segundo, Ligações Perigosas, pela milésima vez. A novidade é que eu nunca havia me identificado com o Visconde de Valmont antes. Ou o filme mudou, ou eu mudei.
A gata do apartamento ao lado foi novamente proibida de entrar aqui e, numa tentativa desesperada de fuga, caiu do primeiro andar no apartamento térreo. Foi enxotada pelo vizinho de baixo e a encontrei completamente molhada, acuada e prensada entre a parede e o sofá do marmanjo, que afirmava "ter medo de gatos". Sei, sei... Salvei a pequena leoa daquela situação degradante e contei o meu feito heróico à vizinha, que me agradeceu. Quase respondi: "por nada, disponha. Sempre que precisar de alguém para seduzir o seu gato com agrados e mimos, de forma que ele nunca mais queira voltar pra casa, eu estarei aqui!" Hehehe. A moral da história é que os gatos realmente escolhem seus verdadeiros donos. Embora nem sempre os falsos donos concordem com essa escolha.
Abre parênteses - em Brasília, eu havia esquecido como é ter vizinhos. - fecha parênteses.
E tem a empregada que veio do interior do estado para a minha casa. Como ela morava na região do Agreste, que tem um clima beeeeem mais ameno, ficou indecisa e pensou em voltar para casa, pois achou aqui "muito quente." Eu tentei não me ajoelhar aos pés dela chorando e implorando para que ficasse, pois amanhã é dia de meu plantão e eu simplesmente não dou conta de cuidar da casa sozinha. Resolvi fingir indiferença, ah, esse meu orgulho besta!... Apenas usei o poderoso argumento de que, abrindo a porta da sala, há um vento maravilhoso, louco para entrar aqui. Ela ficou, mas o vento não veio hoje. Chove, mas está realmente muito quente. Quem sabe eu não resolvo mudar para o Agreste, alucinada pelo calor?
Uma leitora de bulas às voltas com problemas domésticos e quase sequestradora de gatos - foi o que me tornei durante a quarentena. Estou me sentindo uma ET sem ir ao cinema. Acho que vou começar a levar o fungo ao cinema, quem sabe assim ele não cansa mais rapidamente de mim?... Ou será que também os fungos escolhem seus verdadeiros dedos? Argh.
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