Um crime passional que tem, atualmente, uma enorme repercussão em Brasília é esse
aqui. Resumindo, o ex-marido ciumento louco atira várias vezes contra a ex-mulher e um professor dela, numa faculdade aqui do Plano Piloto, O professor morreu na hora, a mulher continua internada, mas fora de perigo, e o assassino se entregou à polícia alegando 'defesa da honra', argumento inválido juridicamente desde a década de 70.
Crimes contra a mulher continuam acontecendo aos montes, apesar da mobilização das organizações feministas e dos avanços da legislação. Mas não é isso que me choca, nesse caso relatado aí em cima. A questão que me deixa realmente espantada é como os crimes de classe média assumem uma dimensão maior que os outros aqui em Brasília. Todos os dias o principal jornal do DF, o Correio Braziliense, publica longas matérias detalhando os avanços da investigação. Juristas, colegas, família, desconhecidos, todos têm uma opinião a declarar sobre o caso. Até o Senado já se pronunciou sobre o caso e demitiu o assassino, que era funcionário da Câmara Federal.
Tenho lido, no mesmo Correio Braziliense, crimes contra a mulher muito mais bárbaros do que esse, com o perdão da comparação. Entretanto, por acontecerem no esquecido entorno de Brasília, que a cidade parece querer fingir que não existe, muitas vezes merecem apenas uma notinha de canto de página, lida apenas pelos mais atentos. Brasília é injusta até no tratamento que dá aos seus crimes. E é claro que o destaque dado pela imprensa interferem sobre a punição aos culpados, pois os crimes mais 'populares' sempre resultam numa necessidade de resposta, pela polícia e pela justiça, à sociedade que acompanha o caso. Notas de canto de página podem ser arquivadas e esquecidas, afinal, crime e pobreza andam lado a lado, e quem se importa?
Problema meu, que fico indignada aqui na solidão e na omissão do Planalto Central, graças a esse hábito adquirido em Recife de ler toda a seção policial dos jornais. Diga-se de passagem, Recife trata os seus crimes de um modo muito mais democrático. Aliás, crime lá na minha cidade é assunto que vende bem, daí a veiculação massiva de todo tipo de notícia sangrenta. Há um jornal especializado nisso e os programas de TV que fazem cobertura policial são campeões de audiência na cidade. Ninguém finge que nada acontece na periferia e nem seria possível, pois a violência salta aos olhos do povo da cidade e, de um jeito ou de outro, acaba atingindo a todos. Nesse ponto, Recife é igual a Brasília: a violência é cada vez mais visível aqui também. Com a diferença de que lá não somos hipócritas.
Bala na Kbeça, da banda pernambucana Faces do Subúrbio
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