Estado de Coisas
Quarentena
Eu bebi muito nesse início de 2009. De um jeito que parecia que não havia mais nada a fazer. Nenhum outro programa me interessava, apenas o bom e velho boteco, quase sempre o mesmo Beirute e a sua cerveja geladíssima.
Por vários motivos, tive que parar. Quinze dias sem álcool. Quase desesperada, estou conseguindo. A vida com teor alcóolico zero não é fácil. Mas eu precisava desse tempo. Por que a cerveja já tinha virado companhia, conselheira e paixão.
Desde ontem estou bebendo cerveja sem álcool. Só pra matar a saudade. Eca, tem gosto de suco em pó, no final. Domingo eu volto às boas com a verdadeira cerveja. Vejamos se a quarentena me deu os limites necessários. Tim tim.
Paixão-vacina
Tive muitas paixões, mas uma delas foi especialmente dolorosa.
Foi daquelas que tiram o chão, que metem medo, que levam ao desespero. Um desespero ora contido, ora escancarado. De ficar mal, chorar, beber, adoecer e se recuperar. Tudo em nome daquela paixão.
Hoje, acredito que nenhuma outra paixão, por mais avassaladora que seja, vai me causar toda aquela tempestade. É como se eu tivesse ficado imune à dor. Aquela paixão acabou me fortalecendo.
Não sei bem se é uma construção imaginária do que nunca se consumou ou se aquela era mesmo uma paixão especial. Sei que até hoje eu guardo com cuidado e até cultuo essa emoção frágil e robusta, que me protege contra qualquer excesso de amor ou de dor.
Mudanças
Brasília nesta época é realmente um sonho feliz de cidade. Poucos carros, pouca gente, vagas em todas as quadras e tudo disponível pra quem ficou. Sorte de quem ficou. Parece a cidade que eu conheci em 2002. E é assim, nessa calmaria, que eu vou começar minha enésima mudança desde que aqui cheguei. Perdi as contas, mas foi mais ou menos assim:
2002: de uma pousada para um quarto na Asa Sul. A pousada era um pandemônio, mas eu só descobri isso depois da segunda noite. Na época, eu tinha só uma bolsa de retirante, com roupas em quantidade suficiente para passar um mês em Brasília.
2003: de um quarto para outro na Asa Sul. A dona do primeiro quarto voltou para Minas Gerais. Saiu reclamando de Brasília, o que despertou o que depois se tornaria minha paranóia anti-Capital.
Do segundo quarto para um apartamento no Cruzeiro. Uma colega pernambucana me chamou para dividir. Foiumdesastrepulaessaparte.
2004: do apartamento do Cruzeiro para a Asa Sul, a primeira moradia que eu realmente curti em Brasília.
2005: do apartamento da Asa Sul para a Asa Norte, pra ficar mais perto do trabalho.
2006: de Brasília para Recife. Fui morar no meu apartamento, Região Metropolitana de Recife, litoral norte.
2007: Do litoral norte para Recife, quase centrão. Ao lado do Caldeirão, perto de todos os bares que eu mais amo nessa vida.
2008: de De Recife para Brasília, Asa Sul, eu adoro isso aqui.
2009: Da Asa Sul para o Guará, por vários motivos.
Minha vida cabe numa caixa de mudança.
Em 2009, eu já...
2009 mal começou e tanta coisa aconteceu.
Quase tive o terceiro carro roubado aqui em Brasília. A fechadura foi pro espaço.
Estou separada, pelo menos por enquanto, depois de muitos ensaios.
Tomei um porre e fiz besteira.
Fiquei viciada no
Blip.
Percebi que meu nível de ansiedade vem aumentando progressivamente e beira o patológico.
Nada aprendi sobre a Reforma Ortográfica.
Arrumei um apartamento como eu queria e devo mudar em breve.
Escrevi 40 páginas de um relatório.
Voltei a caminhar no Eixão aos domingos.
2009 promete ser intenso.