Desde cedo, eu tenho uma séria mania de protelar sutilmente as coisas, sejam bobas ou importantes. É como se eu esperasse que, de alguma forma, elas se resolvessem por geração espontânea. Por isso acabo atrasando pagamentos, deixando para amanhã decisões importantes e adiando descobertas vitais sobre mim mesma. Talvez isso tenha pouca importância se, pensando numa gestão para resultados, os objetivos são (quase) sempre alcançados.
Foi assim com os gatos. Demorei mais de 30 anos para descobrir que são os animais mais queridos e sem os quais eu não posso mais viver. Antes disso, foram várias tentativas de ter cães, pequenos e grandes, que nunca me obedeciam, nem aprendiam nada comigo, pois devo ser uma péssima líder de matilhas. Até que uma gata entrou na minha vida, via varanda da vizinha, e me fez ver o quanto a minha vida, até então sem gatos, era solitária.
Foi também depois dos 30 que descobri:
a liberdade
como dormir com a luz apagada sem sentir medo
o sexo
a bebida
o cigarro
ir a estádios
meu valor profissional
Caio Fernando Abreu.
E agora, dois anos depois, resolvi retomar a atividade física, sem a qual eu não sou gente. Comecei a perceber também que Recife está delicada e novamente me expulsando, só que eu estava deixando pra lá. E descobri o quanto a gente se deixa aprisionar no casamento, em troca de uma vida a dois, que deveria ser partilha e acaba virando posse.
2007 termina pra mim como uma continuação de 2005, eu parei lá e fiquei a ver navios, esperando que as decisões tomassem forma, cor e cheiro.
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