Ele não sofria de impotência, ejaculação precoce ou algum desses problemas sexuais tipicamente masculinos, não. Era bonito, o meu amigo, e eroticamente viável, digamos assim. Sorriso pequeno que fazia covinhas nas bochechas morenas, ar idealista de quem queria salvar o mundo e braços masculinamente protetores. Era infeliz, o meu amigo. Sofria um drama toda vez que deitava. Na falta do nome correto, chamarei de racionalidade sexual.
Meu amigo simplesmente não conseguia relaxar. Sabe quando o tesão toma conta da gente e a mente desliga, vai no automático? Pois é, ele nunca chegava lá. Pensava no calor que fazia, se que ela estava gostando ou fingindo, no morcego que frequentava a sala de trabalho dele durante o dia, no furinho do canto esquerdo da blusa dela.
Ficava excitado, mas só fisicamente. A mente continuava o traindo, era dominado por pensamentos fúteis e inadequados. A mágica não vinha e o sexo virava uma mulher colada em seu corpo e mil idéias desconexas na cabeça. Perdeu o sono, a auto-estima, o desejo de conhecer novas pessoas. Começou a achar o sexo um grande martírio. Sentia que estava perdendo o melhor da festa.
A racionalidade sexual foi objeto de muitas conversas, terapias, tentativas loucas de sexo casual, quente, fetichista, louco. Nada funcionava. Chegou ao cúmulo de tentar enxergar a marca de um chicote durante uma fantasia dessas. "Afinal, quem diabos fabrica esse tipo de acessório?", se perguntava, enquanto uma rainha dominadora se deliciava em malvadezas.
Um amigo dele decifrou o enigma da racionalidade extrema. Depois de uma festa, ambos levemente bêbados, dividiram o sofá e... hmmm, a dor e a delícia foram tão intensas, que ele não conseguiu pensar em nada. Continuam não pensando juntos, de vez em quando, às escondidas, até hoje.
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