A novela das oito nem tinha terminado quando ela percebeu que havia chegado o Dia do Juízo Final. Anjos, trombetas, fogo e muita luz, exatamente como estava escrito. Arrumou algumas roupas rapidamente, as que eram indispensáveis num lugar celestial como deveria ser o Paraíso. Apressou-se em correr para a rua para ouvir o veredicto Dele. Mas o resultado do julgamento foi transmitido secamente por um dos anjos-assessores:
- Vá para o inferno, anjos caídos te aguardam na porta para as devidas providências.
Mesmo em choque, ela conseguiu questionar:
- Inferno?! Como assim, o que vocês querem dizer?!
Eu vivi uma vida toda certinha, nos moldes de gente normal. Estudei, trabalhei, casei, reproduzi e descansei, ao final de tudo. Nunca fiz mal a uma mosca, não fui pervertida ou polêmica e todos sabem que sempre levava agulha e linha na bolsa, de tão prestativa que sou. Falava baixo e de minha boca nunca saiu um palavrão. Ia à missa todos os domingos e nunca falava mal de ninguém. E que Deus é esse que, além de me punir por toda a eternidade, não se dá ao trabalho de vir aqui me dizer isso pessoalmente??? Desculpe, meu filho, como é mesmo seu nome?...
- Gabriel - disse o anjo, entediado.
- Então, Gabriel, peça a seu chefe misericordioso que venha falar comigo, eu posso explicar tudo.
- Não vai dar.
Histérica, ela perguntou, gritando:
- Mas por que, meu Deus?!?!
O anjo retrucou:
- Sabe como é... Ele perdoa tudo, menos mediocridade.
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