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Estado de Coisas

quarta-feira, abril 18, 2007
Muitos finais para a mesma história (contra-indicada para moralistas)
Ela se aproxima do homem que considera seu, lânguida, e roça a pele macia na dele. Chega mais perto e sussurra coisas no ouvido dele, fogosa. Aproxima seu corpo sedento do dele, esperando que o calor que dali emana o contagie lentamente. Mas nada acontece.

Ele cansado pela chateação do dia e sonolento pelo silêncio monótono da noite, só pensa em dormir. Precisa dormir. Apenas lhe concede um beijinho na testa seguido de um "mais tarde tá, amor?"

Frustrada e ferida, ela anuncia, em pensamento, a clássica vingança das mulheres rejeitadas: "amanhã eu vou dar pro primeiro que aparecer na minha frente!" E vai dormir também. Acordou bem lembrada e ainda decidida.

Versão 1
No dia seguinte, ao cruzar o portão do prédio, ela encontrou uma bela colega de trabalho que às vezes a olhava de forma estranha, provocativa. Não deu outra. Ela seria a primeira.

Versão 2
No dia seguinte, ao cruzar o portão do prédio, ela encontrou o cachorrinho da vizinha passeando pela calçada. Ele às vezes rosnava de forma estranha e provocativa para ela. Não deu outra. O cão pode ser o melhor amigo também da mulher.

Versão 3
No dia seguinte, ao cruzar o portão do prédio, ela encontrou um pedinte de cabelos desgrenhados e roupas rasgadas. Pediu um 'trocado' de forma estranha e provocativa. Não deu outra. Ela soube ser caridosa como nenhuma outra.

Versão 4
No dia seguinte, ao cruzar o portão do prédio, ela encontrou o pedreiro que fazia a reforma da fachada do seu prédio. Notou que ele preparava a argamassa de forma estranha e provocativa. Não deu outra. Amou daquela vez como se fosse a última.

Versão 5
No dia seguinte, ao cruzar o portão do prédio, ela encontrou um desconhecido com uma imensa tatuagem no braço, barba por fazer e cabelos longos. Ele transpirava uma sensualidade rebelde, que ela identificou como estranha e provocativa. Não deu outra. Ele aprendeu que a rebeldia compensa.

Versão 6
No dia seguinte, ao cruzar o portão do prédio, ela encontrou o marido arrependido pelo mal-entendido da noite anterior. Ele parecia tão próximo e gentil, mas não demonstrava nenhuma estranheza ou provocação. Não deu outra. Ela sumiu no mundo em busca de novas versões.

Ai. Eu fico com a versão número 5.  

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