De uns tempos pra cá, alguns sentimentos ou estados emcionais, que deveriam simplesmente ser sentidos ou vividos, viraram objeto de consumo.
Estar deprimido, por exemplo. É incrível como as pessoas banalizaram a depressão, um conjunto de sintomas que comumente é traduzido como qualquer pontinha de tristeza. Se alguém está triste, é depressão. Se chorar, é um deprimido crônico. E existem também, os falsos deprimidos, aqueles que incorporam uma figura sombria, angustiada e pré-suicida por que, afinal, a depressão é considerada muito charmosa.
Além da distorção de um transtorno psiquiátrico e consequente medicalização desnecessária, a depressão forjada inibe emoções naturais das pessoas. Por que tudo precisa de um rótulo. Por que até mesmo a tristeza pode ser curada com uma pílula. Por que o enfrentamento de nossos fantasmas torna-se desnecessário quando estamos sob o escudo da depressão.
E tem o outro extremo também: os felizes profissionais. Se alguém precisa provar pra todo mundo que é muito contente, que se diverte o tempo inteiro e a vida é euforia pura, eu desconfio. Por que uma coisa é encarar a vida de forma leve e com bom-humor, e outra coisa é gritar aos quatro cantos do mundo que a vida é só purpurina.
Quem está bem, nem precisa divulgar: todo mundo percebe. Risadagem excessiva parece descontrole. E euforia fora de contexto parece idiotice.
A felicidade ou a tristeza estão sempre estampada nos olhos. E chilique, seja por desalento ou por felicidade, é sempre chilique.
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