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Estado de Coisas

quarta-feira, novembro 16, 2005
Vida e morte de uma paixão
Eu estendi as mãos, ansiosa, mas ele seguiu andando sem mim.
Ofereceu-me apenas a "bruta flor do querer": quando eu o queria, achava que ele também me queria e que isso não se esgotaria tão cedo. Quando eu o quis ainda mais, ele não me quis e partiu para um outro querer, sozinho.

Eu tentei recolher cacos do desejo dele, com um cuidado resignado e desesperado.
Mas ele apenas espalhava ainda mais os restos do que havia, dificultando a minha dolorosa tarefa e me deixando mais uma vez atordoada. As pequenas e indóceis sobras estavam por toda parte, ou em lugar nenhum, ou em espaços tão recônditos que eu não as alcançaria.

Eu imaginei que conseguia matá-lo, por diversas vezes.
E, estranhamente, ele parecia continuar vivo. Não tão vivo quanto antes, pois eu nem sentia a sua pulsação. Parecia latente, prestes a germinar a qualquer momento. Às vezes adormecido, descansando tranquilamente e indiferente à minha aflição. Cheguei a pensar que ele se encontrava em estado vegetativo, imprevisivelmente vivo.

Agora eu quero expulsá-lo, mas temo ganhar um espaço vazio.
Outros espaços foram ocupados por outras paixões, enquanto essa paixão que permanece em estado de coma, mas não se vai. Já não dói, e não passa. Quando ele se for - se ele se for -, terei um espaço disponível, ou ele levará consigo esse imenso território ocupado durante tanto tempo? Não sei. Mas não me importo em continuar velando, carinhosamente, essa paixão agonizante.

Conheço bem essa vontade de querer expulsar o último vestígio que ficou, de anular a sombra que teima em passear pela alma, de arrancar fora a paixão que agoniza, agoniza, agoniza... e nos agoniza o coração... e conheço também o medo de sentir, depois de tudo expulso, um imenso vazio a ocupar tudo!  

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