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Estado de Coisas

quarta-feira, fevereiro 23, 2011
Pressa e perfeição
Algumas pessoas desenvolveram a habilidade de fazer o tempo parar. Isso é bom, isso é ruim.

Fazer o tempo parar é ruim quando a pessoa se deixa ficar em lembranças tristes, em páginas viradas, em filmes que já foram vistos. Por medo, por preguiça ou por egoísmo, querem manter intocáveis situações que já mudaram sem que ela percebesse. A vida dançando na rua e alguém resmungando atrás da porta. O tempo parou, mas o relógio segue a sua contagem interminável. Dessas pessoas, eu exijo distância regulamentar.

Mas fazer o tempo parar também pode ser a capacidade de fazer pausas, pequenas ou grandes, na correria do tempo. É o filho que nasceu, é o projeto dos sonhos, é fazer um trabalho manual. Contra a pressa de um mundo que quer produzir incessantemente, calmaria. Contra a agonia de querer fazer tudo ao mesmo tempo, tranquilidade. O tempo também pede pausas, ora!

Tenho convivido com pessoas que parecem ter congelado o tempo em suas vidas. Para elas, a vida passa em outro ritmo. São mulheres que não trabalham, são donas de casa que cuidam dos filhos, são pessoas que pararam de estudar bem cedo. Parecem vindas de um túnel do tempo, ou parece que eu vim do futuro direto para a vizinhança.

Sobraram algumas breves reflexões:



Não é fácil explicar a elas o meu ritmo de vida e às vezes eu me dou conta de que realmente não há justificatica concreta para tanta pressa - a ansiedade e os projetos são só meus.

O exercício da tolerância - esse tão raro - me fez querer compreender esse outro ritmo, de cuidar e cozinhar, sem se angustiar com grandes planos.

Por outro lado, percebo que a minha vida frenéticas as tem intrigado, uma curiosidade assustada que às vezes parece querer seguir meus passos.
Talvez fiquemos sempre assim - eu, na minha pressa de tudo e elas nessa calmaria institucionalizada. Eu quero um pouco do mundo delas, mas não abro mão do meu, que ofereço a elas de volta.

Produção e ócio, passos largos e passinhos miúdos, relógio e bracelete - o encontro de ritmos aparentemente inconciliáveis pode, quem sabe, imprimir o tempo certo das coisas.