Eu estava saindo para pegar algum no caixa eletrônico e aproveitei para caminhar, depois de um sábado sedentário/depressivo. Quando desci do prédio, vi que um rapaz negro catava coisas no lixo do condomínio. Na frente da caçamba, uma pequena carroça para carregar o que selecionava. Atrás, cuidadosamente abrigado do sol, um menino de cerca de três anos, o filho dele, sentado no chão, lendo uma revista velha e apontando, deslumbrado, as figuras para o pai: "o jacaré, o carro, olha aqui, pai."
O que chamou a minha atenção foi a forma como o pai respondia, atencioso, enquanto separava o lixo da caçamba do meu condomínio. O lixo que cheira mal. Tudo o que descartamos depois do consumo. E aquele pai ali, separando o que poderia lhe servir enquanto conversava com o bebê. Uma criança falante e articulada, sinal de que recebe estímulos constantes. Meu coração doeu, de verdade. Um aperto, uma tristeza, uma angústia. E eu voltei para buscar umas roupas que eu tinha separado no processo de mudança, as que eu não usaria mais.
Entreguei as roupas a ele, pensando no que minhas colegas de Política Social pensariam da minha atitude assistencialista. De quebra, um caminhãozinho de carga, que era do meu filho, para o menino brincar. Ele agradeceu e eu continuei a caminhada.
O aperto no peito não passou.
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