... foi mais das muitas buscas estranhas que trazem as pessoas até este blog. Para não decepcionar esses(as) desesperados(as) por amor, segue a...
Historinha afro-brasileiraEra o homem que ela queria a qualquer custo e que havia perdido. Era aquele homem e mais nenhum. Precisava dele, homem, e de mais nada na vida. Quando a sedução falha e a perda parece iminente, o desespero se instala. E as histórias de paixão são capazes de carregar as pessoas a lugares desconhecidos, ao abandono e à loucura, ao crime e à submissão. Paixões parecem não ter limites.
Diante da falta de alternativas plausíveis, restou o sobrenatural. Ela, que nunca acreditou nessas coisas, recorreu aos búzios. E daí a um terreiro. E daí aos rituais. Pombagira, companheira de Exu, garantiu que sabia trazê-lo de volta. Havia um porém, advertiu a extravagante senhora - ele poderia não voltar como ela desejava. Ela aceitou o pacto com a entidade que não via. Tê-lo de volta era tudo, tudo o mais era dispensável e de importância menor. E rezou pelo seu retorno.
Um dia, como prometido, ele voltou. Não mais tão alegre, nem tão falante. Parecia ter perdido o brilho do olhar, parecia um autômato. Voltou disposto a ficar, reocupou a gaveta com suas roupas e coisas, o recipiente de creme para barbear que ele guardava, mesmo vazio. Não falou muito, sorriu meio sem vontade. Nem parecia ele.
Ela esperou que os dias trouxessem novamente o olho brilhante e o riso fácil e contido. As confidências e a beleza da intimidade. As piadas que ela já conhecia, mas que ele teimava em contar sempre. Nada disso voltou. Ele estava lá, mas parecia distante. Ela chegou a pensar se havia feito realmente a melhor escolha.
No dia seguinte, ela levantou e olhou para o homem ao seu lado. Ele estava lá, o sonho realizado, um deus no altar, a paixão incurável. Sorriu e arrumou o cobertor em volta dele. Levantou e saiu para levar as oferendas para a entidade, como prometido. Queria agradecê-la também. Que importa se não há mais brilho ou vontade própria - ele estava lá.
Amigo sinhô
Saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha, não vá
Que muito vai se arrepender
Pergunte pro seu Orixá
Amor só é bom se doer
(Canto de Ossanha - Vinicius de Moraes)