É assim, nada é perfeito e tudo tem seu excesso e falta devidamente sacramentados.
Se é a paixão louca, o negócio é ficar doente, chorar, beber litros e se deseperar. É a paixão em que sobram tremores e falta o sossego de ondas do mar. Na paixão-avalanche, não há paz, mas também não há tédio. É querer além de até onde se achava que era possível querer. É sabor de reencontro a cada encontro, a incerteza da próxima vez. Adrenalina pura. O desespero de querer o que não se tem e, contraditoriamente, parece nosso mesmo assim. Felicidade desorientada e nenhuma monotonia. Estar apaixonada assim é saber-se viva, com o perdão do clichê.
Mas quem tem "a sorte de um amor tranquilo" sabe o que é isso. Sem sobressaltos ou angústia, azul desmaiado, movimento circular. Por que a vida precisa de colo. De abraços, paciência e certezas. Da delícia que é proteger e saber-se protegida. E nem dá para viver com o peito apertado pra sempre, é preciso ter afagos, declarações de amor e parceria. Sem dilacerar a alma despenteada e sem morrer de paixão. Pensamentos tranquilos, calmaria total, risco calculado.
Eu não prefiro uma nem outra situação. Quero as duas, cada uma em seu tempo e sempre que o coração aguentar o tranco. Morrer de paixão não é virtude, e de tédio também não. Mas saber-se só em cada uma dessas condições e, especialmente, ter a tranquilidade de ser só, faz respeitar o tempo de cada tempo. Na idéia de "ninguém entravou a minha liberdade, foi a minha vida que a bebeu", eu começo a achar que chegando à idade da razão.
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